O município de Picos e cidades vizinhas têm sido palco de um golpe cada vez mais sofisticado: criminosos se passam por advogados, utilizando dados reais de processos judiciais para extorquir vítimas. A prática, que já fez diversas vítimas na região, preocupa autoridades e profissionais do Direito.
O advogado picoense Giovani Madeira relata que seu nome e o de colegas de escritório já foram usados diversas vezes por golpistas. “Do ano passado pra cá, essa já é a sétima vez, salvo engano, que tentam se passar por mim e cobrar valores dos clientes do escritório”, afirma.
Segundo ele, os criminosos acessam plataformas públicas da Justiça, como o PJe e o JusBrasil, para obter informações detalhadas sobre processos. Com esses dados, criam perfis falsos em redes sociais e aplicativos de mensagens, simulam documentos oficiais e induzem as vítimas a realizarem pagamentos sob pretextos como custas judiciais ou honorários fictícios.
“Eles criam um valor fictício: ‘você tem 150 mil reais pra receber, porém, pra receber, tem que depositar hoje nessa conta’. Inventam taxas inexistentes, como honorário de contador judicial ou oficial de justiça”, explica Giovani.
Além de falsificarem boletos com cabeçalhos de tribunais, os golpistas utilizam CPFs de terceiros inocentes para registrar contas e números de telefone, dificultando a identificação dos autores. “Pra se chegar nesses criminosos tem que ser uma delegacia especializada no assunto. Teresina tem”, pontua o advogado.
A vulnerabilidade dos sistemas de consulta pública também é um fator preocupante. “Alguns tribunais, como os de São Paulo, exigem senha para acessar processos. Aqui, não. Os processos que não estão em segredo de justiça podem ser consultados facilmente”, alerta.
Giovani também destaca os impactos do golpe para a advocacia e para o sistema de Justiça. “Esse tipo de golpe não prejudica só o advogado que figura ali diretamente. Ele prejudica a OAB, a sociedade e até o Judiciário, porque o cliente passa a desconfiar de cobranças legítimas”.
O advogado orienta que, diante de qualquer solicitação de pagamento, o cliente entre em contato diretamente com seu advogado, preferencialmente por meios já conhecidos. “Os nossos números, por exemplo, são os mesmos há 18 anos. Se for um número aleatório, principalmente com DDD de fora, desconfie, porque é golpe”.
Em caso de transferência indevida, ele recomenda agir rápido: “Na Caixa, você tem até meia hora para tentar cancelar a transação. E o Banco Central lançou o Mecanismo Especial de Devolução de Valores (MED), que deve ser acionado antes mesmo do boletim de ocorrência”.
A OAB Piauí disponibiliza um canal direto para denúncias: (86) 3142-5856. A entidade reforça que está atenta ao problema e que ações de conscientização e combate estão sendo intensificadas. As denúncias são enviadas para a Secretaria de Segurança Pública do Piauí para apuração.