A forte queda nos preços do petróleo em abril pegou analistas de surpresa e pode limitar os dividendos pagos pela Petrobras (PETR4). No mês, o barril do tipo Brent caiu 14%, recuando de US$ 74,74 para US$ 64,21 até a última segunda-feira (7).
Para o UBS BB, o recuo foi impulsionado pela decisão da Opep de aumentar a produção a partir de maio, além das tensões comerciais que enfraqueceram as expectativas para a economia global. Em relatório, os analistas Matheus Enfeldt, Tasso Vasconcellos e Victor Modanese afirmam que ainda não revisaram os números da Petrobras, mas projetam que, com o petróleo estabilizado em US$ 65, o fluxo de caixa livre da empresa deve ficar entre 7% e 8% ao ano.
Isso, segundo eles, limitaria o pagamento de dividendos a esse patamar — a menos que a Petrobras decida elevar seu nível de endividamento para manter a política de distribuir 45% do fluxo de caixa livre ajustado, excluindo dividendos extraordinários.
Já o Itaú BBA avalia que a Petrobras segue sendo a opção mais segura para quem quer manter exposição ao setor de petróleo, por combinar baixa alavancagem com boa proteção em dividendos. Segundo os analistas Monique Martins Greco Natal, Eric de Mello e Bruna Amorim, mesmo com o petróleo a US$ 55, o dividend yield estimado da estatal para 2025 é de 12%. Se a commodity se mantiver em US$ 65, o rendimento pode subir para cerca de 14%.
Eles alertam, no entanto, que a guerra comercial e seus efeitos sobre a atividade global podem pressionar ainda mais os preços do petróleo. Diante desse cenário, investidores têm buscado uma estratégia mais defensiva, priorizando ações com maior resiliência e bom retorno, mesmo com o barril abaixo de US$ 60.
A possível redução dos dividendos pagos pela Petrobras, em razão da queda nos preços do petróleo, representa um risco adicional para a já desafiadora situação fiscal do governo federal. Nos últimos anos, os repasses da estatal tiveram papel relevante no reforço do caixa da União, ajudando a compensar frustrações de receitas e a sustentar a meta de resultado primário. Em 2023, por exemplo, os dividendos da Petrobras responderam por uma fatia significativa da arrecadação extraordinária do governo.
Com o barril do petróleo Brent oscilando abaixo dos US$ 70 e ameaçando se estabilizar próximo dos US$ 65, analistas projetam um impacto direto sobre o fluxo de caixa da empresa e, por consequência, sobre sua capacidade de distribuir dividendos robustos. Essa perspectiva é especialmente sensível em um momento em que o governo busca cumprir metas fiscais mais ambiciosas, como o déficit zero prometido para 2025.
Além da perda de arrecadação direta via dividendos, a menor lucratividade da Petrobras pode impactar outros indicadores relevantes para o governo, como a arrecadação de tributos sobre lucros e royalties. Com isso, aumenta a pressão sobre o Ministério da Fazenda para encontrar novas fontes de receita ou cortar gastos — o que pode dificultar a sustentação do arcabouço fiscal e a confiança dos investidores na trajetória das contas públicas.