Mais da metade dos brasileiros está comprando menos comida por causa da inflação. É o que revela a pesquisa mais recente do Datafolha, que entrevistou 3.054 pessoas com 16 anos ou mais em 172 cidades entre os dias 1º e 3 de abril. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
O levantamento mostra que 8 em cada 10 entrevistados fizeram algum tipo de ajuste no orçamento. Entre os principais cortes estão o fim das idas a restaurantes, a troca de marcas por opções mais baratas e a redução no consumo de produtos como café, que sofreu forte alta nos últimos meses.
A situação é ainda mais crítica entre pessoas de menor renda. Uma em cada quatro relatou que a comida em casa não é suficiente. Para 60%, há o necessário. Uma minoria disse que consegue manter sobras. Esses índices se mantiveram estáveis em relação ao ano passado.
Além da alimentação, outras despesas também foram afetadas. Cerca de metade dos entrevistados reduziu o uso de água, luz e gás. Uma proporção semelhante passou a buscar novas fontes de renda. Muitos também relataram atraso nas contas da casa, corte na compra de remédios e inadimplência.
O cenário de alta nos preços afeta a popularidade do presidente Lula, que hoje enfrenta os piores índices de aprovação de seus três mandatos. A inflação, especialmente a dos alimentos, tem sido usada como arma política por adversários.
Segundo o Datafolha, mais da metade dos entrevistados vê o governo federal como um dos principais responsáveis pela alta dos preços. Uma parcela menor acredita em responsabilidade parcial. Mesmo entre eleitores de Lula, há reconhecimento de que o governo tem culpa no encarecimento da comida.
Outros fatores citados como causas da inflação foram a crise climática, conflitos internacionais, a economia dos EUA e o papel dos produtores rurais.
Os dados do IBGE divulgados em 11 de abril mostram que o tomate foi o item com maior alta em março: 22,55%. Também se destacaram os ovos (13,13%) e o café moído (8,14%). Juntos, esses três alimentos responderam por um quarto da inflação do mês.
O IPCA de março ficou em 0,56%, uma desaceleração em relação a fevereiro (1,31%). No ano, o índice acumula alta de 2,04%. Só o grupo de Alimentação e Bebidas foi responsável por 45% da inflação mensal.
O café moído acumula alta de 77,78% nos últimos 12 meses. O aumento é atribuído à quebra de safra no Vietnã e a problemas climáticos que também afetaram a produção no Brasil.
Por outro lado, houve queda nos preços do óleo de soja (-1,99%), arroz (-1,81%) e carnes (-1,60%). No grupo Alimentação fora de casa, os destaques foram refeições (+0,86%) e cafezinho (+3,48%).