Os corretores de imóveis e representantes do setor de construção civil do Piauí estão se articulando se questionando o aumento das taxas cartorárias cobradas no Piauí para transferência de imóveis. Esse reajuste foi anunciado na semana passada pelo Tribunal de Justiça e consiste em um aumento de até 500% nos valores cobrados em escrituras, registros de imóveis, averbações e outros atos de formalização de transações imobiliárias.
Nesta terça-feira (08), representantes do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI-PI) e do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) se reuniram com representantes da Corregedoria do Tribunal de Justiça, da Assembleia Legislativa e da OAB-PI para discutir o aumento das taxas. Participaram do encontro o desembargador Erivan Lopes, corregedor-geral do TJ, o deputado Severo Eulálio, presidente da Alepi e o tesoureiro da OAB-PI, Rafael Neiva.
O encontro foi o início de uma série de reuniões para tentar se chegar a um consenso quanto às cobranças cartorárias no Piauí. Mas para o CRECI e o Sinduscon, o aumento nas taxas é contraproducente e vai na contramão do mercado imobiliário. Presidente do Conselho de Corretores, Pedro Nogueira Lima já havia afirmado que os custos cartorários já eram um peso considerável na aquisição de imóveis e que com o aumento, a situação se torna ainda mais desafiadora a quem quer sair do aluguel.
Já para o presidente do Sinduscon, Guilherme Fortes, a medida vai impactar diretamente o setor de maneira negativa, uma vez que dificulta a aquisição de imóveis, principalmente para as faixas de renda mais populares. Apesar dos programas de incentivo à primeira moradia, os custos aumentam e isso deve se refletir, segundo ele, numa possível desaceleração do setor.“A gente percebe que isso está indo na contramão da construção civil e na contramão da oportunidade das pessoas de terem o primeiro imóvel. Às vezes o imóvel onde você reside, você quer botar em garantia para ter um empréstimo, para poder crescer seu empreendimento. Isso tudo dificulta esse processo. Em Teresina, o menor valor para apartamento dentro do Minha Casa Minha Vida, por exemplo, é R$ 170 mil. Antes, as pessoas pagavam R$ 3,500 para registrar o contrato. Na nova tabela ela passa a pagar R$ 6.047”, explica Guilherme.
De acordo com o presidente do Sinduscom, o aumento das taxas cartorárias vão impactar não só quem tenta adquirir o primeiro imóvel por meio dos programas habitacionais. Quem vai sair do primeiro imóvel para o segundo também deverá pagar mais. Por exemplo: apartamento e casas de R$ 250 mil em Teresina tinha taxas cartorárias na casa dos R$ 3.900, mas com a nova tabela esse valor passa para R$ 7.800.
Uma nova reunião do CRECI e do Sinduscon com representantes do Tribunal de Justiça está prevista para acontecer no começo da próxima semana, ainda sem data marcada.
Atualmente, existe um planejamento do aumento das taxas dos cartórios baseado no IPCA e há uma lei estadual de 19 de dezembro de 2024 que altera o texto da lei nº 6.920 de 2016 sobre as custas e emolumentos, despesas processuais e serviços do Tribunal de Justiça do Piauí. Existe ainda um provimento da justiça piauiense que que trata do aumento de 4,83% baseado no IBGE atrelado ao IPCA.
Segundo Guilherme Fortes, presidente do Sinduscon, os valores aumentados pelo TJ na semana passada ultrapassam 100% do IPCA e variam de 70% a 250%. A Sindicato da Construção Civil do Piauí orienta que, ao menos no momento, enquanto não se chega a uma resolução junto ao Tribunal, quem está comprando imóvel não pague nenhuma taxa ao cartório, porque não é garantia que este dinheiro seja recebido de volta depois caso as taxas mudem.