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Sem cura e com tratamento caro, autismo é desafio para pais e instituições sociais

Uma em cada 59 crianças tem algum tipo de transtorno relacionado ao autismo. Este é o número mais recente divulgado pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos.

Uma lei de 2012 garante aos autistas o acesso à educação. Os que estiverem matriculados no ensino regular, e que comprovarem necessidade, têm direito a um acompanhante especializado em sala de aula.

A repórter Eliane Scardovelli acompanhou crianças com autismo de graus leve a severo que frequentam uma escola da rede pública municipal de São Paulo. O local possui um treinamento para estagiários, mas não há acompanhante para todos os alunos que necessitam de atenção exclusiva.

A falta de um profissional especializado faz com que mães acompanhem de perto os filhos na escola e até entrem na sala de aula com eles. Esse é o caso da Maria Ilda, que acompanha o filho Thiago, de 13 anos, que possui autismo severo.

“Às vezes eu não sei o que fazer. Eu fico preocupada. Como eu posso ajudar o meu filho?”, pergunta Maria Ilda.

Para a psicopedagoga Juliana Koga, parte do problema da falta de acompanhamento de profissionais vem do preconceito sobre as crianças com a condição.

“Nem parece autista é uma expressão que acontece, que a gente ouve muito. E que as mães de autistas batalham para que isso não seja dito, porque é um pouco ofensivo no sentido de que não é porque não tem aquele estereótipo. E quando falam em autista o que pensam? ‘Então se batem, batem no outro, não olham, não tem contato, não interage, não tem empatia’ e não é assim”, afirma a psicopedagoga Juliana Koga.

Tratamento de alto custo

Em Fernandópolis, no interior de São Paulo, uma mãe mantém seu filho de 30 anos, com grau severo de autismo, acorrentado na maior parte do tempo. Sem condições para pagar um tratamento adequado ao filho, essa foi a única maneira que Marisa Padilha encontrou para cuidar de André, que não fala e nunca passou por um tratamento específico para o autismo. Ele só não frequentou a escola por falta de um acompanhante especializado.

Marisa parou de trabalhar há mais de 10 anos para cuidar do filho. A família vive com um salário mínimo e com o que recebe do Benefício de Prestação Continuada, pago à pessoas com deficiência pelo INSS.

“Ele não agride ninguém, só ele mesmo. Com 16 anos ele começou a se bater muito. Ele está com a orelha deformada”, diz a mãe de André.

O Ministério Público, a Justiça e a equipe de saúde de Fernandópolis sabem que Marisa mantém o filho acorrentado. Ela já o internou duas vezes. Na última ele passou mais de três meses em uma clínica psiquiátrica. “Não ajudou em nada, sabe? Ele veio do mesmo jeito. Lá ele também ficava amarrado”, completou Marisa.

Para o neuropediatra José Salomão qualquer crítica à maneira que Maria lida com o filho André é injusta pela dificuldade que se tem de cuidar de uma pessoa com autismo.

“É muito fácil criticar esse tipo de coisa. Mas coloque-se no lugar dessa mãe. Teu filho extremamente agitado, muito comprometido e que não tem acesso a nenhum outro tipo de tratamento. Por muito pior que pareça esse tipo de conduta, é a única que essa família tem”, afirma.

Schwartzman também fala que o ideal é começar o tratamento para o autismo antes dos três anos de idade. A medida pode atenuar algumas condições. Ele também diz que não há caso perdido.

“O único tratamento que tem eficácia científica são as terapias chamadas comportamentais. São trabalhos feitos por psicólogos que tentam modificar o comportamento da criança no sentido de diminuir os comportamentos inadequados e melhorar os adequados. O ideal é você começar o tratamento antes dos três anos. Mas em qualquer momento você pode melhorar algumas condições dessa pessoa. Não há caso perdido”.

G1