Dados divulgados nesta quinta-feira (29) pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), acenderam um alerta nos municípios com profissionais atuando na Estratégia de Saúde da Família (ESF). Isso porque, 7 em cada 10 inscritos no novo edital do Mais Médicos no Piauí, já atuavam em outros serviços do SUS, em especial no ESF, e devem pedir desligamento do cargo para atuar no programa federal.

O levantamento aponta que dos 199 inscritos no Mais Médicos no Piauí, 152 já atuavam na Estratégia de Saúde da Família, sendo 93 em municípios piauienses. Segundo o relatório, esse número pode ser ainda maior se forem contabilizados os médicos que atuam em outros serviços do SUS, incluindo hospitais e UPAS.

De acordo com o Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado do Piauí (Cosems/PI), profissionais de pelo menos cinco municípios piauienses já pediram demissão para atuar no Mais Médicos, os médicos atuavam nos municípios de Pajeú, Beneditinos, Água Branca, União e São Pedro do Piauí. Além destes, outros municípios ainda podem perder médicos do ESF até o dia 14 de dezembro, prazo final para entrada no Mais Médicos, entre eles: Teresina (6), Campo Grande do Piauí (3), Floriano (3), Isaías Coelho (3), Joaquim Pires (3), Parnaíba (3), Piracuruca (3), Piripiri (3), Picos (2), Caracol (2), Boqueirão do Piauí (2), Altos (2), entre outros.

A preocupação das Secretarias Municipais de Saúde é de que essa migração de médicos deixe um “buraco” nos postos de ESF. “A solução para alguns afeta diretamente outros municípios, pois estes perdem profissionais que atendem diariamente uma média de 30 pacientes, entre eles, gestantes, crianças, idosos, hipertensos, entre outros. Essas pessoas vão ficar desassistidas até que o Ministério abra um novo edital para novos médicos”, destaca a presidente do Cosems/PI, Leopoldina Cipriano.

Para ela, o desligamento dos profissionais para assumir os novos cargos está relacionado ao fato do Programa Mais Médicos oferecer bolsas de R$ 11,8 mil, valor superior ao pago em muitos municípios no ESF e isento de encargos sociais como INSS e imposto de renda. “Existem municípios que pagam o mesmo valor, só que no Mais Médicos eles são isentos de todas essas taxas, por ser uma bolsa. Por isso, o médico acaba optando por ir para o Mais Médicos”, explica.

Em nota, o presidente do Conselho Nacional, Mauro Junqueira, afirmou que “ao invés de somar profissionais, esse novo edital está trocando o problema de lugar. Se o médico sai de um serviço do SUS para atender em outro, o município de origem fica desassistido, independente se esse médico se desloca da atenção básica ou da especializada, principalmente em relação ao norte e nordeste onde todos os estados têm municípios com perfil de extrema pobreza e necessitam da dedicação desses profissionais que já estão trabalhando”.

Profissionais estão desistindo de atuar no Mais Médicos

Além da migração de profissionais da ESF para o Mais Médicos, outro problema tem preocupado as Secretarias Municipais de Saúde. Segundo o Cosems/PI, antes mesmo de assumir os cargos do programa, alguns profissionais têm desistido das vagas. O medo, segundo eles, é de que o número de inscritos não se concretize ao final da data limite para entrada no Mais Médicos.

“Alguns estão ligando para saber se podem desistir do município e no próximo edital se vincular a outro, porque acham distante. Em outros casos, eles tentam reduzir a carga horária, os gestores não aceitam e eles acabam desistindo”, relata a presidente do Cosems/PI. No Mais Médicos, a carga horária de trabalho é de quatro dias por semana.

Leopoldina Cipriano afirma ainda que a zona rural é o local onde há mais dificuldade para fixar médicos brasileiros, devido à distância dos grandes centros urbanos. “Os médicos brasileiros não querem ir para o interior. Guaribas, por exemplo, qual é o médico que quer morar quatro dias em Guaribas? Eles querem ficar perto dos aglomerados urbanos e acabam desistindo da vaga”, declara. Apesar disso, a presidente disse que ainda não é possível afirmar quantas vagas abertas não foram preenchidas por desistência do profissional. O número total de desistências e adesão ao programa devem ser divulgados após o dia 14 de dezembro.

A reportagem do ODIA entrou em contato com a coordenação do Mais Médicos do Piauí, que não soube informar quantos médicos já assumiram as vagas do Mais Médicos no estado. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi) também foi procurada pela reportagem, mas não se pronunciou sobre os dados até a publicação deste material. O ODIA procurou ainda o secretário estadual de Saúde, Florentino Neto, mas este não atendeu as ligações.

O Dia