A pouco menos de um ano para a eleição de 2018, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) enfrenta seu pior momento político. O sonho de disputar a Presidência da República foi enterrado, mas ele ainda não jogou a toalha em relação à reeleição ao Senado, embora alguns de seus principais aliados reconheçam que a disputa por uma das 513 vagas na Câmara seja seu caminho mais provável.
Um ano atrás, era candidato incontestável à Presidência, com um recall de 48 milhões de votos da disputa com a presidente deposta Dilma Rousseff. Agora, Aécio sai de uma posição de líder de grupo político dominante em Minas — e em boa parte do país — para se dedicar à mais dura disputa de sua vida: fazer sua defesa sobre as denúncias no Supremo Tribunal Federal (STF) e garantir um mandato, provavelmente de deputado federal.
Na quarta-feira passada, quando retornou ao Senado depois de 22 dias afastado por medidas cautelares impostas pela Primeira Turma do STF, foi recepcionado no gabinete por uma comissão de prefeitos do norte de Minas. Seus aliados mineiros dizem que, embora Aécio nacionalmente esteja numa situação muito ruim, a lógica da política local é diferente, mesmo porque o governador Fernando Pimentel (PT) e seu grupo político também enfrentem desgaste acumulado pelas dificuldades administrativas e pela crise fiscal do estado.
— Minas terá duas vagas para o Senado em 2018. Claro que o Aécio prefere ser candidato ao Senado, mas vai ter condições de disputar a reeleição? Ninguém sabe. Está esperando passar esses seis meses para ver se esse terremoto acalma. Mas também pode piorar. Hoje ele tem que se dedicar a se defender — diz um dos políticos mineiros de seu grupo político.
O PSDB e o grupo político do tucano ainda são a principal força de oposição ao também desgastado governador Fernando Pimentel, e há uma operação para convencer o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) a se candidatar ao governo e, assim, garantir um mandato para seu mentor político no Congresso.
A estratégia é voltar a Minas assim que a onda de inquéritos por corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF) permitir, e discutir a implementação de ações políticas no interior, junto a prefeitos eleitos em 2016. Da mesma forma, ele pretende se dedicar a defender o legado das duas administrações tucanas no estado.
— Com 48 milhões de votos, o Aécio encarnava a esperança, mas perdeu para as mentiras da campanha de Dilma. Ele ia muito bem, era opção inquestionável para 2018 e sei que para ele a queda é muito grande. O fato é que aconteceu esse episódio do Joesley. Não vejo crime, não houve nada em troca, mas não deveria ter conversa com esse tipo de gente, não foi o melhor exemplo a ser dado por um grande líder, e o povo não perdoa. Do ponto de vista jurídico, ele pode se defender, mas o erro capital do ponto de vista da política é muito difícil consertar. Houve uma colisão com a opinião pública que está sedenta de Justiça — avalia o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, que na semana passada, lançou seu nome dentro do PSDB como um pré-candidato à Presidência da República.
Mas nem em Minas a vida de Aécio também não será fácil. O PT domina a máquina estadual com o governador Fernando Pimentel. O governador irá disputar a reeleição com uma aliança forte: a maioria do PMDB, PCdoB, PV, PDT e parte do PR. O PSDB mantém aliança com o Democratas, PPS, PTB e talvez com o PSD e ainda não tem um nome forte para o governo.
Hoje, o nome que mais empolga o grupo de Aécio para uma composição no estado, segundo os tucanos, é o do deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com apoio do Planalto. O senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) já adiantou que não quer de jeito nenhum participar da disputa.
— Para ser candidato do PSDB, o Rodrigo tem que sair do PMDB. Ele tem tido uma boa aceitação em Minas. Foi o terceiro colocado na eleição para prefeito, é jovem, não tem processo, fala bem e é bonitão. Pode empolgar como candidato a governador depois dessa exposição na CCJ — avalia uma liderança tucana em Minas.
O deputado Marcos Pestana diz que Aécio está muito fragilizado. Sua situação se complica pelo clima de desconfiança geral com políticos. E diz que o amigo tucano “deu azar de, no meio de 150 deputados e senadores investigados no STF, virou o símbolo desse “momento tenebroso”.
— O futuro de Aécio está em jogo em Minas, mas só vai ser decidido lá na frente. Entre os prefeitos ainda tem muito reconhecimento, mas é um momento delicado, não adianta tapar o sol com a peneira. A confiança em Aécio foi abalada e ele vai precisar de fazer um grande esforço de comunicação para convencer o eleitor, que precisa ouvir sua voz e olhar nos seus olhos — avalia o deputado Marcos Pestana.
Com forte resistência até entre algumas correntes do partido ligadas ao presidente interino Tasso Jereissati (CE), o presidente licenciado, entretanto, não jogou a toalha na disputa pelo Senado. Se agarra no apoio do presidente Michel Temer, dos ministros tucanos e de correntes ligadas ao grupo liderado pelo candidato à sua sucessão em dezembro, o governador de Goiás Marconi Perillo. Também se fixa no do prefeito de São Paulo, João Dória, que essa semana saiu em defesa.
Para a disputa ao Senado, na vaga de Aécio, o PSDB também ainda não tem um nome forte que impulsione votos para Aécio em uma eventual candidatura à Câmara dos Deputados. Em um levantamento do Instituto Paraná, a ex-presidente Dilma Rousseff aparece em primeiro lugar nas intenções de votos para o Senado, em Minas. Em segundo, o ex-procurador-geral Rodrigo Janot e, em terceiro, Aécio. O PT local, no entanto, resiste em apoiar a candidatura de Dilma e deverá dar a preferência ao deputado Reginaldo Lopes (PT-MG).
O Globo