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‘No começo éramos heróis’: Profissionais da saúde relatam preconceito, luto e desgaste após quatro meses de combate à Covid-19

Em quatro meses de pandemia do novo coronavírus (Covid-19), profissionais da saúde do Alto Tietê viram suas rotinas mudar completamente. Os aplausos, antes dedicados como forma de homenagem, deram lugar à discriminação. As mortes, que não eram tão comuns na rotina de trabalho, agora fazem parte de todos os plantões.

Enfermeiros e técnicos de enfermagem declaram, inclusive, que deixaram de usar os uniformes fora do ambiente de trabalho por receio dos episódios de preconceito. Eles também afirmam que passaram a lidar com o medo constante de serem contaminados e de perder algum paciente, colega ou familiar para a doença.

Na semana em que o Alto Tietê chega a mil mortes pela Covid-19, o G1 ouviu três profissionais da região que relataram o que mudou desde o início da crise sanitária. Do heroísmo à exclusão, da coragem ao medo de perder a batalha: eles relatam situações de preconceito, o constante luto por pacientes e as rotinas desgastantes, dentro e fora do ambiente de trabalho.

De heróis a alvos de preconceito

Antonio Márcio da Silva Piovesan tem 37 anos, mora em Mogi das Cruzes e atua na unidade crítica do Hospital Santa Marcelina. Auxiliar de enfermagem, ele lida diretamente com os pacientes contaminados pelo novo coronavírus. No início da pandemia, o trabalho árduo e a nova rotina eram compensados pelas constantes homenagens à classe. No entanto, segundo ele, isso mudou.

O profissional afirma que passou a vivenciar episódios de discriminação e que hoje, assim como outros colegas da categoria, se sente um monstro: a população tem medo de que ele carregue o vírus, prefere manter distância e até o exclui.

“No começo nós éramos heróis. Hoje em dia sofremos preconceito, discriminação, de muitas vezes você não poder sair da sua casa para trabalhar de branco. Tem que ir com outra roupa, porque aplicativo não para, ônibus não para. Quando o ônibus para, você sobe e todo mundo te olha diferente”, desabafa.

“Quando você sobe de branco no ônibus, todo mundo te olha diferente, como um monstro”, diz Antonio.

Ele conta ainda que tem evitado o transporte público para não vivenciar esses momentos novamente. “Sofremos no transporte, na rua. Todo dia eu vou de carro, estou gastando um pouco a mais, para evitar esses constrangimentos que a gente vem passando por aí”, completa o auxiliar.

G1