Em 2018 o SAMVIS de Picos atendeu 112 casos de estupros de toda região. Neste ano de 2019 já foram notificadas 15 ocorrências – do município e cidades vizinhas. O Serviço de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência Sexual (SAMVIS) funciona em um anexo do Hospital Regional de Picos e é formado por uma equipe multiprofissional, como médicos, enfermeiros, assistente social e psicólogo que prestam apoio médico, moral e assistencial, prevenindo a vítima de futuros problemas contra consequências do tipo DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) tétano, além de outras lesões.
O médico que atua no SAMVIS é responsável ainda por emitir um laudo pericial que será anexado ao processo de investigação da polícia, tornando a atuação do órgão ainda mais importante.
Devido aos relevantes números de abusos sexuais registrados no município neste mês de fevereiro, a nossa reportagem conversou com profissionais que atuam no SAMVIS de Picos. O psicólogo Moisés Nascimento conta como são feitos os procedimentos quando chega uma vítima de violência sexual ao centro. Ele fala ainda quais são os encaminhamentos dados aos pacientes.
“Normalmente o caso quando chega, já foi efetuada uma denúncia anterior, é registrado um boletim de ocorrência e é solicitado ao médico perito, a realizar a perícia, em seguida é feito o acompanhamento de enfermagem onde são pedidos exames, é feita uma profilaxia medicamentosa, o acompanhamento psicológico e se houver a necessidade, a gente faz o encaminhamento dessas pessoas para os seus respectivos municípios, haja vista que nós atendemos aqui todo Vale do Guaribas”, explicou.
Moisés Nascimento afirma que cresceu o número de denúncias acerca de crimes sexuais e também a quantidade desse tipo de violência.
“Falar da violência sexual, do abuso ou do estupro, do assédio sexual é algo que, na verdade, existe e sempre existiu, agora os casos se tornaram mais notórios, devido as mídias sociais, a internet, os meios de comunicação, e bem como também, o índice de casos tem aumentado. Normalmente, o caso quando chega aqui ao hospital ele já é uma tentativa, ou um caso consumado, então esse caso vem como uma demanda espontânea para a urgência do hospital e são feitos vários procedimentos após a identificação desse caso”, disse.
O psicólogo dá ainda orientações às famílias para darem uma atenção maior às mudanças de comportamento de crianças e adolescentes sem motivo aparente.
“As crianças, normalmente, quando são vítimas de uma violência, de um assédio sexual, não têm nem consciência plena na proporção, da dimensão que é aquele fato, então, às vezes, é importante que os pais observem esses sinais, alterações de humor, oscilação de comportamento, isolamento, medo, distúrbios de sono, agressividade e uma série de outros comportamentos, ações e posturas dessa criança podem estar demonstrando que ela esteja passando por situação de abuso. Conversar com os filhos é muito importante para que haja um vínculo de confiança, porque na maioria dos casos, existe um desajuste familiar ou uma dificuldade de comunicação entre os pais e as crianças”, orientou.
A assistente social do SAMVIS, Keyla Guedes, fala que a vulnerabilidade social e familiar, muitas vezes são fatores que influenciam casos de violência, principalmente contra crianças. A profissional diz ainda que a falta de informação pode dificultar na atuação do combate a agressões sexuais.
“A maioria dos casos são de famílias que têm uma grande vulnerabilidade social, a gente também faz os encaminhamentos para os setores, como CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), e a gente sempre providencia esses encaminhamentos para que essa família possa ser acompanhada. Não só a própria questão da vulnerabilidade, mas até mesmo da informação, que essas crianças e mulheres mesmo, que não são só crianças, têm pouco acesso à informação. Essa questão do conversar com a família, desse diálogo para poder estar, de certa forma, evitando, não só chegar até a gente, mas estar prevenindo esses casos”, pontuou a assistente social.
O Piauí dispõe, atualmente, de oito SAMVIS nos municípios de Teresina, Parnaíba, Picos, Floriano, Bom Jesus, Campo Maior, São Raimundo Nonato e Corrente. O atendimento é feito de forma gratuito, sigiloso e deve ser solicitado após suspeita ou prática de estupro.
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MOISÉS NASCIMENTO
KEYLA GUEDES