A Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) realizaram nesta quarta-feira (23) uma operação para desarticular um esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
As investigações apontam que aposentados e pensionistas tiveram mensalidades descontadas de seus benefícios sem autorização, simulando filiação a associações. Os desvios, praticados entre 2019 e 2024, podem ter causado prejuízos de até R$ 6,3 bilhões.
O presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido. Cinco servidores foram afastados de suas funções por decisão judicial.
De acordo com a CGU, os investigados cobravam mensalidades simulando a adesão dos beneficiários a associações de aposentados, o que não havia ocorrido de fato. Os descontos apareciam diretamente nos contracheques, mesmo sem consentimento dos segurados.
As entidades envolvidas alegavam oferecer assistência jurídica, convênios com academias e planos de saúde. Na prática, não havia estrutura para prestar os serviços prometidos.
Onze entidades são alvos da investigação. Os contratos com aposentados e pensionistas foram suspensos. Uma delas é o Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi), cujo vice-presidente é o irmão do presidente Lula, José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico.
Em nota, o Sindnapi declarou que apoia as investigações e que atua com transparência, seguindo as normas do INSS.
A investigação começou em 2023, na esfera administrativa da CGU. Após constatação de possíveis crimes, a Polícia Federal foi acionada em 2024 e abriu 12 inquéritos.
A CGU entrevistou 1.273 aposentados e pensionistas. Em 97% dos casos, os beneficiários afirmaram não ter autorizado os descontos. Segundo o ministro Vinícius de Carvalho, houve falsificação de assinaturas e uso de documentos incompletos.
Em 72% dos casos, as entidades nem sequer apresentaram a documentação exigida pelo INSS para autorizar os descontos.
A operação ocorreu em 13 estados e no Distrito Federal. Foram cumpridos 211 mandados de busca e apreensão em 34 cidades.
Foram decretadas seis prisões provisórias. Cinco pessoas já foram presas — todas ligadas a organizações associativas de Sergipe. Uma seguia foragida até a última atualização da reportagem.
Também foram apreendidos carros de luxo, joias, obras de arte e dinheiro em espécie. Seis agentes públicos foram afastados de seus cargos por decisão da Justiça.
Os nomes e funções dos servidores públicos afastados ainda não foram divulgados. A PF informou que eles continuam sendo investigados, e que novas informações serão divulgadas conforme o avanço das apurações.
Alessandro Stefanutto, demitido após a operação, é filiado ao PDT e foi indicado em 2023 ao cargo pelo ministro Carlos Lupi. É graduado em Direito pela Universidade Mackenzie e mestre em Gestão e Sistema de Seguridade Social pela Universidade de Alcalá, na Espanha.
Antes da presidência do INSS, atuou como diretor de Orçamento e Logística da autarquia e foi procurador federal especializado no órgão. Também trabalhou na Receita Federal e no Tribunal de Justiça de São Paulo.
Stefanutto participou da equipe de transição entre os governos de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, como consultor em Previdência Social.
A PF orienta que aposentados e pensionistas consultem seus extratos no aplicativo ou site Meu INSS. Na página inicial, há a opção "mensalidade associativa", que permite verificar descontos.
Caso identifiquem cobranças indevidas, os segurados podem solicitar a exclusão ou bloqueio do desconto pelo serviço "exclusão de mensalidade de associação ou sindicato" ou "bloqueio de mensalidade associativa".
O pedido também pode ser feito pela Central 135 ou diretamente à entidade envolvida.