Enquanto os casos de dengue crescem dia após dia, com um aumento de 745% nas notificações, a maior preocupação são os casos graves, que antes eram conhecidos como “dengue hemorrágica”. Ao todo, 10 pessoas já morreram em decorrência do agravamento da infecção viral, que é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
De acordo com a infectologista Elna Amaral, alguns cuidados devem ser tomados para evitar as formas graves da doença.
“A forma mais grave costuma acontecer na terceira ou quarta dengue da pessoa. Mas muita gente tem a primeira dengue já grave. Gestantes, bebês e imunossuprimidos precisam de maior atenção. Para evitar isso, é necessária uma hidratação adequada, com muita água e soro, além de evitar o consumo de álcool. Remédios como corticóides e AS devem ser evitados, pois podem intensificar sangramentos”, revela.
Sorotipos
A dengue é uma infecção viral aguda com quatro sorotipos circulando no Brasil. É uma arbovirose, por ser transmitida através de um mosquito, e não de uma pessoa para outra. É aguda, com muita febre alta, dores musculares, dor nos olhos.
“Em boa parte dos casos, a dengue evolui de forma benigna. A primeira semana tem mais sintomas, até que no quinto dia aparece uma coceira na pele, que fica empolada. Depois é um pouco de fraqueza, mas com 14 dias ela melhora”, acrescenta a médica infectologista.
Os casos graves são caracterizados por suor frio, desmaios, dores abdominais, vômitos e, ocasionalmente, sangramentos .
“Com essa clínica, principalmente, entre crianças e idosos, é preciso cuidado. Antes chamávamos a dengue hemorrágica, mas nem sempre o sangramento é visível. Os sintomas de gravidade acontecem do sétimo ao oitavo dia, com uma recaída que depende de assistência técnica”, analisa Elna Amaral.
Repelente é uma arma contra o mosquito
Elna Amaral explica que o uso do repelente é válido. “Sabemos que o mosquito tem hábitos noturnos. Ou no começo da manhã ou no comecinho da noite. É a hora que a fêmea do mosquito busca o sangue humano para alimentar seus ovos. O essencial é cuidar dos locais de água parada, como plantas, caixa d’água e acúmulo de lixo. Uma folha no quintal solta pode ser um ponto de acúmulo de água”, revela.
Entrada do inseto
Outra dica é fechar portas e janelas ao anoitecer, também ajuda para evitar a entrada do inseto. “É preciso conversar com os vizinhos para fazer uma vistoria geral para evitar a proliferação”, reforça a médica.
As notificações devem ser priorizadas. “Assim é possível gerar um mapa da cidade ou do Estado que precisa ser abordado. Os agentes de endemias fazem essa busca rigorosa, principalmente bairros com mais casos”, aponta.
“Estamos em um franco desabastecimento de reagentes que confirma as arboviroses. Esses exames, laudos e suspeitos acontecem pela clínica médica. A clínica médica é mandatória e nossos médicos estão preparados”, explica Herlon Guimarães, superintendente de Atenção à Saúde de Municípios da Sesapi.
O Piauí continua mantendo a orientação de avaliar casos graves, óbitos e gestantes com o teste clínico. “É preciso uma transparência de dados e auxílio para que a equipe médica atue. Mas não é por falta de reagente que as viroses não são tratadas. O tratamento são os sintomas, não há tratamento específico”, considera Guimarães.
Sangramento acende o sinal de alerta
A estudante de medicina Daniella Brito passou por um caso grave de dengue. Felizmente, ela superou o quadro e pôde contar a história. “Meus sintomas começaram nos últimos dias de carnaval. Eu estava viajando para Barra Grande. Eu estava ótima, até que, subitamente, senti febre e o corpo doendo. Então pedi para ir embora, passamos em uma farmácia, tomei um remédio e dormi. No dia seguinte, eu estava muito mal”, lembra.
Daniella confessa que foi relapsa com os sintomas.
“Eu continuei vivendo minha vida normal porque era aniversário do meu namorado. Eu não tive repouso, não parei quieta. Eu, mesmo ruim, fui para a festa, jantei à noite, com muita febre. A cabeça parecia explodir. Depois do aniversário, no dia 4, eu fui ao médico. Eu já tinha tido dengue duas vezes. Então fui à urgência e depois voltei para casa. Até que no dia 5 eu acordei com sangramento transvaginal, sem período de menstruação. Então eu fiquei internada, por conta dos sangramentos e eu fiz hemograma todos os dias”, acrescenta.
Até que o caso grave foi, de fato, confirmado. “Tem uma fase de sintomas da dengue clássica, você acha que melhorou, até que vem o sangramento e entramos na parte mais complicada. As plaquetas baixaram. Além disso, apareceram manchas na pele. Meu caso foi bem clássico. Fiz exame da dengue e foi confirmado”, finaliza.