Além de em apenas quatro meses já ter superado o número de casos registrados durante todo o ano passado, o atual surto de dengue no Brasil mostra a chegada do mosquito Aedes aegypti a novos locais e é o pior da década no Piauí,  bem como nos estados de Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins, além do Distrito Federal.

Os governados estaduais mais afetados e o governo federal apontam a pandemia de Covid-19 como uma das causas que dificultaram o combate à disseminação da doença.

Piauí tem pior surto de casos de dengue dos últimos 10 anos 
Piauí tem pior surto de casos de dengue dos últimos 10 anos 

Piauí tem pior surto de casos de dengue dos últimos 10 anos 

Além da conhecida rotina de prevenção, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz, vinculada ao Ministério da Saúde) diz ter obtido resultados promissores no uso da bactéria Wolbachia, cuja eficácia é testada desde 2014, mas o método é aplicado em poucas cidades.

Para combater o surto, os gestores de saúde em todos os níveis intensificam uma rotina já conhecida. Aplicação de larvicida, conscientização da população para que evite criar lugares propícios para a reprodução do mosquito e treinamento de agentes de saúde, entre outras atividades.

Apesar disso, o mosquito tem chegado a regiões que antes não tinham esse problema.

Uso da bactéria Wolbachia

Em Niterói, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande e Petrolina, a Fiocruz testa há alguns anos o uso da Wolbachia, paralelamente a pesquisas que estão sendo realizadas sobre o método em 11 países. Essa bactéria está presente naturalmente dentro da célula de diversos insetos, mas não no mosquito que transmite a dengue, a zika e a chikungunya.

De acordo com Luciano Moreira, líder do WMP (sigla em inglês para Programa Mundial do Mosquito, que coordena o projeto em âmbito mundial) e pesquisador da Fiocruz, o primeiro passo do método, que por ora é complementar, consiste na introdução da bactéria nos ovos de Aedes aegypti.

Isso acontece em uma fábrica da Fiocruz no Rio de Janeiro e outra em Belo Horizonte, cidade que também já teve liberações de mosquitos. Depois disso, há duas opções: liberar os ovos ou o mosquito adulto.

Na natureza, o mosquito se reproduz e passa a bactéria para seus descendentes. Com o tempo, a tendência é que ele se torne dominante no local, dificultando assim a transmissão do vírus.

Para resolver o problema de oferta do mosquito com a bactéria, o plano é construir uma nova fábrica com capacidade de produzir 50 milhões de ovos por semana. Hoje, a capacidade é de 8 milhões. Caso haja a expansão, negociada entre Ministério da Saúde, Fiocruz e WMP, o “cálculo bastante conservador é de em dez anos cobrir 67 milhões de habitantes no Brasil (32% da população)”, diz Moreira.

Fonte: Folha de São Paulo