Foto: Acervo Irmã Dulce

Noviço, vivendo no Convento dos Jesuítas em 1986, Marco Antonio Vilarinho Gomes de Oliveira, na época com 28 anos,  recebeu a missão de ser voluntário por um mês e meio em um hospital de Salvador (BA).

No início, ele conta que teve medo, era a primeira vez que iria trabalhar com enfermos no Hospital Santo Antônio. No primeiro dia, receoso, viu pela primeira vez Irmã Dulce e nunca se esqueceu de suas palavras. “Não tenham medo, vamos trabalhar com todo tipo de pessoas, todos são filhos de Deus, ninguém escolhe o berço que nasce”.

Suas palavras foram tão acolhedoras, que Marco Vilarinho, passou a encarar os pacientes com outro olhar. “O que mais me impressionava nela era seu espírito de luz e força. Os médicos reclamavam porque Irmã Dulce já estava doente, mas ela acordava por volta das 5h30min ia de leito em leito conversava com todos os pacientes. Muitos chamavam de mãe Dulce”, diz Marco lembrando que o hospital tinha cerca de 300 enfermos.

Primeira santa brasileira

Na manhã de domingo,13 de outubro, o Papa Francisco realizou a cerimônia de canonização de Irmã Dulce que se tornou a primeira santa brasileira, na Praça de São Pedro, no Vaticano, lotada de fiéis. Santa Dulce dos Pobres, é assim que ela se chamará a partir de agora.

Um fato que chamou atenção de Marco Vilarinho, era que Irmã Dulce tinha somente 35% de funcionamento do pulmão e não podia se deitar na cama, pois complicava sua respiração.

“Ela dormia em uma cadeira, onde fazia suas penitências, pois se deitasse em uma cama não conseguia respirar”.

Quando trabalhou como voluntário no hospital, que nasceu de um galinheiro, Marco disse que ouvia de Irmã Dulce a ordem de receber todos os necessitados. “A ordem era não voltar ninguém, desde pessoas com problemas mentais, com deficiência, todos eram recebidos”.

Enfrentou a igreja

Um episódio também marcou para o então noviço piauiense. Os assistidos por Irmã Dulce estavam precisando de roupas e mantimentos. A Mãe Menininha de Gontois iniciou uma campanha para ajudar Irmã Dulce. Segundo Marco, na época, a igreja foi contra porque Mãe Menininha era líder de religião de matrizes africana. “Irmã Dulce enfrentou a igreja e disse que onde Mãe Menininha entrasse, ela ia também, mostrando que ela não tinha preconceito”.

Marco, 62 anos, é jornalista, e lembra que em 1986 quando conviveu com Irmã Dulce ela já era chamada de santa e de”anjo bom da Bahia”.

“Foi uma experiência inesquecível. Aprendi com ela que existe santo na terra. Ela dizia que a obra não era dela, era de Deus. Ela era muito admirada. Em Salvador, naquele período não tinha faixa de pedestre, mas quando ela passava, todos paravam. Era impressionante”.

Fonte: Cidade Verde