O presidente Lula (PT) participou nesta sexta-feira (7) de um ato em que anunciou novos lotes de assentamentos para trabalhadores rurais, incluindo integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), eleitorado historicamente ligado ao mandatário, mas que andava insatisfeito com o governo federal.

Com crise de popularidade, Lula afirmou que encontrou um país destruído e que “arrumar a casa destruída é mais difícil do que levantar uma casa nova”, mas prometeu cumprir com promessas feitas na campanha.

“O ano de 2025 é o ano que nós vamos colher tudo que preparamos nos dois primeiros anos. Temos que entregar o que prometemos na campanha. Quero terminar meu mandato com a moral elevada com vocês. Devo minha eleição ao povo. É para vocês que eu devo governar”, disse ele.

“Todo mundo sabe que eu tenho um lado. Quem são meus amigos? São vocês. Nunca esqueço quem são. Sei quem é amigo de verdade e quem é amigo ocasional, apenas porque sou presidente.”

O evento começou por volta das 12h no Acampamento Quilombo Campo Grande, onde vivem famílias do MST desde o final da década de 1990, no município de Campo do Meio, no sul de Minas Gerais. No local, funcionava a Usina Ariadnópolis.

Trata-se da primeira visita de Lula a um acampamento do MST em seu terceiro mandato. Por volta das 9h, ônibus com trabalhadores rurais chegavam de estados como São Paulo e Bahia, com camisetas e bonés do movimento – alguns também usavam boinas de Cuba e carregavam bandeiras da Palestina.

Lula começou a discursar por volta das 14h, quando parte do público que acompanhava o evento no sol já tinha deixado o local. O presidente iniciou o discurso pedindo desculpas pelo atraso.

A viagem a Campo do Meio, a 335 km de Belo Horizonte, é considerada um gesto de aproximação do presidente com o movimento após uma série de desavenças entre seus líderes com representantes do governo.

Durante seu discurso, o ministro do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Paulo Teixeira, agradeceu o MST. “Quando vocês pressionam o nosso governo, vocês ajudam nosso governo”, disse ele.

A cerimônia desta sexta acontece na escola Eduardo Galeano, reconstruída após ser demolida em 2020, em meio a confrontos do MST com a Polícia Militar pela reintegração de posse no acampamento Quilombo Campo Grande.

“O ato no local onde existe talvez o maior conflito pela terra no país representa a retomada da reforma agrária por parte do Estado brasileiro. Isso nos coloca de novo numa relação harmoniosa com o governo, mas o MST tem sua autonomia”, afirma Silvio Netto, dirigente do MST em Minas.

Ceres Hadich, da direção nacional do MST, disse que espera que o ato represente “um novo impulso às mobilizações, às lutas e à organização popular”. “É importante celebrar cada conquista, mas é fundamental saber defendê-las”, discursou ela, durante o ato.

O governo federal anunciou uma lista com 12.297 novos lotes para famílias de agricultores sem-terra. Os terrenos estão localizados em 138 assentamentos em 24 estados. Eles somam 385 mil hectares de terra.

Segundo o MDA, o ato desta sexta também marca a retomada dos decretos de desapropriação por interesse social para reforma agrária.

São sete decretos, somando 13.307 hectares, incluindo a área em que acontece o ato desta sexta. O Complexo Ariadnópolis era parte da massa falida da Usina Ariadnópolis Açúcar e Álcool S/A, que deixou de funcionar em 1996, deixando dívidas com a União e com seus funcionários. Na sequência, acampamentos foram levantados no local, formando o Quilombo Campo Grande.

Desde então, a massa falida da empresa já tentou 11 reintegrações de posse – a última delas ocorreu durante a pandemia da Covid-19, quando foi destruída a Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano.

Segundo o MDA, cada uma das 459 famílias do Quilombo Campo Grande tem, em média, 8 hectares de terra. Juntas, elas produzem e comercializam mais de 160 alimentos, como mandioca, feijão, hortaliças, milho e café.

As desapropriações previstas nos sete decretos devem beneficiar 800 famílias. Decretos semelhantes não são assinados desde 2019, segundo o MDA.

O ministro do MDA, Paulo Teixeira, também anunciou R$ 1,6 bilhão para o Crédito Instalação, que é uma modalidade especial de crédito para famílias recém-assentadas, com descontos de 50% a 96% para quem paga em dia. A pasta afirma que o dinheiro vai beneficiar 18 mil famílias assentadas.

Outra medida anunciada pela MDA foi a autorização de uma segunda operação do Pronaf A, com a oferta de crédito rural de até R$ 50 mil, com juros reduzidos de 0,5% a 1,5% ao ano para assentados, quilombolas e indígenas.

Ainda no evento foram assinados contratos de renegociação de dívidas com assentados da reforma agrária, por meio do programa Desenrola Rural.

Por ARTUR BÚRIGO E CATARINA SCORTECCI/ Folhapress