O assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, Marcelo Aloizio de Arruda, chocou o Brasil. Ele foi morto a tiros na festa de aniversário dele. O atirador é Jorge José da Rocha Guaranho, policial penal federal e apoiador do presidente Bolsonaro. A polícia investiga se o crime teve motivação política.
Marcelo Arruda registrou numa rede social, pouco antes do crime, imagens da festa em que ele comemorava com família e amigos seu aniversário de 50 anos. O tema era o PT e o ex-presidente Lula. A esposa de Marcelo disse que, por volta da meia-noite, um homem chegou ao local, sem ser convidado, gritando palavras de ordem. O policial foi identificado como Jorge José Guaranho.
“Ele estava manobrando o carro e de repente ele abre o vidro e começou a falar palavras desta ordem ‘PT lixo, Lula ladrão, Bolsonaro’… Enfim, neste aspecto. Foi quando o Marcelo foi conversar com ele falando para ele sair, porque ali era uma festa particular, que só tinha família e ele sacou da arma e apontou para o Marcelo e eu até intervir, tentando apaziguar a situação. Ele estava com a esposa e o filho bebê dentro do carro. A esposa pediu para que ele parasse também, mas ele estava muito alterado”, relata Pamela Suellen Silva, esposa de Marcelo.
Repórter: Ele gritava o quê?
Pamela: Bolsonaro, Bolsonaro… E agredia, falava palavras contra o Partido dos Trabalhadores, contra o PT, enfim aquela rivalidade extremista, né, que existe.
“Ele foi e voltou e nisso ele falou para o Marcelo: ‘Eu vou voltar, eu vou voltar e o Marcelo’. E ele saiu com o carro e, poucos minutos depois, ele retornou mesmo, e quando ele retornou, ele saiu do carro atirando já. E o Marcelo estava armado. Ele já ficou atento. Ele foi no carro, a arma dele estava no carro, porque ninguém estava esperando isso. Nós estávamos no aniversário dele. Aí ele falou: ‘Não esse cara vai voltar’ e realmente ele voltou. Marcelo defendeu todos que estavam lá, infelizmente nós perdemos ele”, descreve Pamela.
O boletim de ocorrência atesta que, segundo todas as testemunhas ouvidas, o “atirador identificado como Jorge desceu do carro e, aos gritos, dizia : ‘Aqui é Bolsonaro’. Que 20 minutos depois ele voltou ao local com uma arma em mãos, que a esposa de Marcelo, Pamela, se identificou como Policia Civil, que Marcelo sacou sua arma de fogo e também se identificou como guarda municipal, e que Jorge, ignorou isso e efetuou os dois primeiros disparos”.
Imagens da câmara de segurança do local da festa mostram que Jorge voltou ao clube dez minutos depois de ter aparecido da primeira vez. Às 23h51, ele saí do carro armado. Pamela mostra o distintivo de policial civil. Jorge começa a atirar. Foram dois disparados antes dele correr para dentro do salão.
Um vídeo gravado pelas câmeras de segurança da festa mostra o que aconteceu depois: Marcelo, já baleado, andando pouco antes de cair no chão. Jorge entra no salão e mira em Marcelo. Pamela, mulher de Marcelo, tenta impedir uma nova agressão, mas, ainda assim, ele dispara mais uma vez em Marcelo. Marcelo revida, atirando em Jorge.
Logo depois, no alto da tela, à esquerda, é possível ver Jorge caído. Um homem, de bermuda rosa, dá chutes na cabeça dele. Outras pessoas aparecem no local. A mulher de Marcelo volta para ajudar. Segundos depois, o homem de bermuda rosa e o homem com bermuda preta e camisa cinza dão mais chutes em Jorge.
Segundo o boletim de ocorrência, quando a polícia chegou encontrou os dois feridos. Marcelo estava caído no solo, a princípio com duas perfurações de arma de fogo. E Jorge José da Rocha também caído com 3 perfurações de arma de fogo.
Às 17h, a delegada que investiga o caso deu uma entrevista coletiva.
“Quando chegamos no local, os dois já tinham sido atendidos e já estavam no hospital. E a informação que levantamos foi que estava ocorrendo uma festa temática do guarda municipal onde ele comemorava 50 anos de idade, o tema da festa dele era Partido dos Trabalhadores. Em um determinado momento chegou um indivíduo no local, em um veículo branco. E ouvindo, de acordo com informações que coletamos, ele estava ouvindo uma música que remetia a Bolsonaro, e o aniversariante, o dono da festa, pediu para ele se retirar. Quando ele estava indo embora, ele acabou proferindo algumas palavras. O guarda municipal não gostou do que ele teria dito, pegou alguns pedregulhos, de acordo com o que a gente obteve de imagens, e arremessou contra o motorista do veículo, que saiu, ele sacou a arma ainda né, ele saiu do local falando que iria voltar. De fato ele voltou, e quando ele retornou ocorreu toda a tragédia”, diz a delegada Iane Cardoso.
A delegada foi questionada se a polícia vai investigar se foi crime de ódio.
Delegada: Olha, a gente não consegue informar agora exatamente como foi, a motivação. Então, a gente prefere, nesse momento, investigar, ouvir testemunhas, para que no final a gente informe realmente qual foi a motivação do crime, qual foi a real motivação, o que teria ocorrido realmente naquele momento, o que foi que levou ele a ir até aquele local, o agente penal a ir até o local onde estava ocorrendo a festa, por que ele estava ouvindo música que remetia a Bolsonaro, que falava ‘mito’, enfim… A gente tem que apurar tudo. Até verificar quem estava consumindo bebida alcoólica, quem não estava. Enfim, a gente tem que verificar tudo.
Repórter: O vídeo mostra duas pessoas chutando a cabeça do agente penitenciário. Essas pessoas foram identificadas? E se forem, devem ser identificadas também?
Delegada: A priori, achamos que uma já está identificada. Obviamente que a gente vai ouvir testemunhas. A imagem é muito nítida, mas a gente tem que ter alguém para falar olha, é aquele indivíduo realmente. Mas a gente acredita que um já está identificado, não vai ter dificuldades pra identificar os demais, obviamente. Aqueles três que efetuaram os chutes contra o agente penal quando ele já estava no chão, a conduta de cada um deles será verificada e o exame que será realizado nele irá ajudar a identificar se houve algum comportamento que tenha ocasionado alguma lesão mais grave.
O secretário de Segurança de Foz do Iguaçu (PR) disse que a Polícia Científica também ajudará nas investigações.
“Pelo que a gente percebeu foi uma intolerância política aí de maneira absurdamente traumática e que ceifou a vida do nosso colega e o outro envolvido também está em estado grave também com risco de óbito”, relata.
Marcelo Arruda morreu no hospital na madrugada deste domingo (10). Ele entrou na Guarda Municipal há 28 anos, era dirigente sindical e tesoureiro do PT na cidade. Foi candidato a vice-prefeito nas eleições de 2020. Ele deixa esposa e quatro filhos.
G1