O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta quinta-feira (27) que “não existe fim no coronavírus” e que o país ainda deve conviver com a doença mesmo depois que for descoberta uma vacina.
“Não existe fim no coronavírus. O coronavírus vai continuar conosco, mas como outros vírus com que nós vivemos”, disse.
“A vacina vai acabar com o coronavírus? Não, não vai acabar, vamos conviver com o vírus e ter campanhas de vacinação, como para o H1N1. Também vamos ter hábitos novos, como uso de máscara e os afastamentos sociais necessários em alguns casos. É bom começarmos a colocar essas ideias de forma muito clara. É uma nova normalidade.”
Para o ministro, porém, o impacto deve ser menor porque o país “aprendeu a lidar com a Covid”.
A declaração ocorreu em reunião com secretários estaduais e municipais de saúde.
No encontro, o ministro também deu uma bronca pública em um diretor que apresentava o cenário da epidemia no país e cobrou que seja feita ressalva por regiões ao apresentar os dados.
A cobrança ocorreu logo após o diretor de vigilância, Eduardo Macário, iniciar a apresentação com os números nacionais e dizer que o país vive uma tendência de estabilidade que aponta para uma redução de casos. Atualmente, o país soma mais de 3,7 milhões de casos confirmados, com 117.665 mortes.
A afirmação sobre a tendência nacional irritou o ministro, que citou a queda no Norte e Nordeste.
“É muito importante que você ressalte que o Brasil não pode ser visto da forma como você apresentou aqui”, disse. O diretor, no entanto, ainda começava a apresentar os dados.
Para Pazuello, o Brasil é um país com regiões “claramente definidas” com relação à contaminação e curva de óbitos, com algumas “exceções”. “O que está impactando essa curva [nacional] é o Sul do país, Sudeste e Centro-Oeste”, afirmou. “Porque o Norte e Nordeste é completamente diferente.”
“Se você coloca isso dessa forma para o Brasil inteiro ouvir, parece que o Brasil inteiro está assim. E não está assim”, disse. “Senão você joga uma informação como joga a mídia, e a dona Maria em Belém, onde não tem mais óbito nenhum acontecendo lá, não vai no médico com medo de contaminar, com medo de morrer, e vai morrer de câncer.”
A imprensa, no entanto, também apresenta dados regionais. Análises de especialistas também têm apontado que o Brasil pode apresentar variações dentro de algumas regiões.
Desde o início de junho, veículos de imprensa mantêm um consórcio para divulgação dos dados da Covid-19. A medida ocorreu após o Ministério da Saúde atrasar a divulgação dos números e deixar de informar dados do total de casos confirmados e mortes pela doença. A pasta recuou em seguida.
Essa não foi a primeira vez que o ministro deu bronca pública na equipe. Em julho, Pazuello já havia cobrado “ressalvas regionais” ao divulgar os dados.
A mesma cobrança ocorreu no momento da apresentação do número de mortes.
O ministro atribuiu o aumento recente na média diária de mortes à mudança no modelo de diagnóstico, a qual permitiu a possibilidade de que a confirmação ocorra também após avaliação clínica e de exames de imagem, e não apenas com testes.
“A palavra clara é: aumento de registro de óbitos”, disse, frisando a palavra registro. “Alguns óbitos que estavam aguardando ou tiveram certidão indeterminada estamos verificando a inclusão dos registros, mesmo que a data do óbito tenha sido lá atrás.”
Após a apresentação, secretários de saúde disseram concordar com a avaliação sobre redução de casos, mas fizeram acenos à equipe de vigilância que apresentava os dados.
Outros pediram cautela na avaliação por risco de novo aumento de casos.
“Não podemos tratar a epidemia como acabada. Não podemos perder de vista que pode ter rebote e não podemos baixar a guarda”, disse o secretário-executivo do Conass, conselho que reúne secretários estaduais de saúde, Jurandi Frutuoso.
O grupo também questionou o ministério sobre orientações claras para retomada de aulas nas escolas. Pazuello disse concordar com o debate, mas atribuiu a decisão sobre a retomada aos estados e municípios.
“Precisamos ter esse fórum, mas não cabe a nós dizer quem vai abrir ou não essa ou aquela escola ou atividade”, disse ele, para quem cada gestor deve olhar suas reservas e é preciso analisar a experiência de escolas particulares.
NATÁLIA CANCIAN
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)