A nomeação de Fábio Faria (PSD-RN) para o Ministério das Comunicações – recém-criado – é uma aposta pessoal do presidente Bolsonaro para agradar, ao mesmo tempo, o Centrão e Rodrigo Maia em meio ao temor do Planalto de que Bolsonaro poderá sofrer um processo de impeachment no Congresso.
O argumento oficial de Bolsonaro é de que o governo precisa melhorar a comunicação – e, por isso, escolheu Faria, com trânsito entre os Poderes.
O deputado tem interlocução também com o presidente do STF, Dias Toffoli e outros ministros da corte.
A aliados, Faria diz que sua missão política será “pacificar” a relação entre Congresso e Planalto, embora admita que a situação seja difícil. Mas sua indicação agradou a cúpula do Congresso e deputados do Centrão. A dúvida, admitem parlamentares ouvidos pelo blog, será a reação da ala ideológica à entrega do poder da área da comunicação- cara ao grupo- ao deputado federal.
O deputado do PSD, que é genro do empresário e comunicador Silvio Santos, sempre teve excelente trânsito com Bolsonaro – mas é amigo de Maia, o que incomodava palacianos já que é o presidente da Câmara pode dar aval à abertura de um impeachment contra Bolsonaro.
Faria, no pior momento da relação Maia e Bolsonaro, atuou como bombeiro. Tentou reaproximar Maia e Bolsonaro, e aconselhou ambos a diminuírem o tom de críticas e ataques.
A escolha de Faria teve aval dos filhos do presidente Bolsonaro. Segundo o blog apurou, Faria tem relação com o senador Flavio Bolsonaro, e sua indicação foi aprovada pelo vereador Carlos Bolsonaro — responsável pela estratégia de comunicação do pai nas redes sociais.
Carlos, inclusive, passou o dia em Brasília nesta quarta, no Planalto. Para assessores do presidente, que foram pegos de surpresa com o nome de Faria para a vaga, o deputado terá problemas para se “equilibrar” entre os amigos do Congresso e o estilo agressivo de Carlos e do chamado “gabinete do ódio” na comunicação do presidente Bolsonaro.
Assim que Bolsonaro bateu o martelo sobre sua escolha ontem, Faria telefonou para Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia — e o presidente falou com ambos. Ao sair do encontro com Bolsonaro, Faria foi à residência oficial da Câmara- e avisou a Bolsonaro que se encontraria com Maia na noite de ontem.
Maia comemorou a indicação do amigo — apesar de ser do Centrão, hoje rachado no apoio a Maia. O presidente da Câmara repetia a deputados que o procuraram ontem à noite que Faria fazia parte do Centrão que é aliado, por isso, estava feliz com a nomeação do amigo. Na visão do grupo de Maia, Bolsonaro acena com a bandeira branca, pelo menos por ora, por estar com medo do impeachment e do cenário econômico do pós-pandemia.
O convite
Aliados de Bolsonaro já haviam cogitado transformar Faria em líder do governo, ou outro cargo de articulação política- mas ele se recusou. Na quinta passada, Bolsonaro se queixou a ele da comunicação do governo, e Faria disse ao presidente que ele focou nas redes sociais e esqueceu o resto. Bolsonaro, então, sugeriu que ele assumisse a pasta das Comunicações, que poderia ser recriada. É nas redes sociais que o presidente provoca polêmicas e seus apoiadores atacam adversários, por exemplo, como o próprio Congresso e o STF.
Após a conversa, Faria ficou de consultar a família no final de semana e deu a resposta positiva ao presidente nesta terça-feira.
Bolsonaro fez a indicação na quarta-feira.
Para evitar saia justa no governo, Faria também procurou Fabio Wajgarten, responsável pela Secom e que, agora, responderá a Faria. O deputado disse ao chefe da Secom que quer trabalhar em conjunto.
Wajgarten chegou ao governo com a saída de Gustavo Bebianno, ex-ministro que morreu no começo do ano — e teve a benção dos filhos do presidente Bolsonaro e de integrantes da ala ideológica do governo.
Para deputados, haverá choque entre ambos.
G1