Em entrevista exclusiva ao O Dia, a delegada Vilma Alves, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher do Centro de Teresina, falou sobre o ciclo da violência doméstica e familiar. Para ela, a independência financeira é fundamental para que as mulheres quebrem o ciclo da violência e consigam se libertar do agressor.
“É um ponto essencial para a liberdade da mulher. No começo da nossa história aqui em Teresina, muitas mulheres ainda diziam ‘ele paga a pensão, ele me sustenta’, hoje eu não escuto isso muito, porque a mulher já trabalha e não faz mais questão da pensão. Isso é conquista da própria independência da mulher”, destaca da delegada.
A fala da delegada é pertinente quando se considera que, segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP/PI), o número defeminicídios voltou a aumentar no estado, em especial no interior do Estado, em que houve um aumento de 17 crimes em 2018, para 23 mortes de mulher porviolência de gênero em 2019. Nos municípios do interior ainda há a cultura de que o homem deve ser o provedor da casa.
“A nossa cultura é machista, imagine no interior, que o homem se acha o dono da casa e acaba até mesmo estuprando a própria filha, e a mulher casa e pensa que tem que obedecer. Muitos deles dizem que ‘a minha mulher não corta o cabelo, minha mulher não anda de short, minha mulher tem que se vestir o corpo todo’. O direito à liberdade é coletivo, não é exclusivo de nenhum machista”, destaca a delegada Vilma Alves.
De acordo com a delegada, o aumento do número de casos no interior do Estado também se dá pela falta de políticas de prevenção ao feminicídio voltadas para outras cidades. Em muitos municípios, por exemplo, não há sequer uma Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher. Apesar disso, qualquer distrito policial está apto a receber denúncias de violência doméstica e familiar.
Já na capital, houve uma redução de aproximadamente 45% dos crimes de feminicídio, tendo uma queda de nove casos em 2018 para cinco em 2019. “Na capital temos um exército de ações contra o feminicídio. A imprensa, o poder judiciário, a polícia e a própria sociedade estão integrados nas ações. No interior não temos essa união, essas ações multidisciplinares”, destaca.
Adelegada faz ainda um apelo para que as pessoas denunciem casos de violência doméstica. É importante que a sociedade fique atenta a sinais como marcas pelo corpo, sinais de cárcere privado ou qualquer outro sinal de violência. Caso perceba algum caso suspeito, o familiar ou amigo da vítima pode procurar aPolícia Civil para oficializar a denúncia.
“A questão da violência não é privada, é uma questão publica hoje todo mundo é responsável para que se possa denunciar, tanto que a Maria da Penha, que antes só a mulher podia denunciar, hoje qualquer pessoa pode denunciar que aquela mulher está sofrendo agressões ou está em cárcere privado. Procure um canal e denuncie”, finaliza a delegada.
Por: Nathalia Amaral/O Dia