Cientistas dizem ter identificado os primeiros sinais da doença de Parkinson no cérebro – encontrados de 15 a 20 anos antes dos sintomas aparecerem.

Exames realizados em um pequeno número de pacientes considerados de alto risco mostraram disfunções no sistema de serotonina do cérebro, que controla o humor, o sono e o movimento.

Os pesquisadores do King’s College London que conduziram o estudo dizem que a descoberta pode levar a novas ferramentas de monitoramento e tratamentos.

Mas, de acordo com especialistas, é necessário realizar estudos mais amplos antes e tornar os exames mais acessíveis.

O Parkinson é uma condição neurológica degenerativa progressiva que afeta cerca de 200 mil pessoas no Brasil.

Entre os principais sintomas da doença, estão tremores, movimentos involuntários e rigidez – depressão, problemas de sono e memória também são comuns.

Tradicionalmente, acredita-se que a doença esteja ligada a uma substância química chamada dopamina, em falta nos cérebros de pacientes com a doença.

Embora não haja cura, há tratamentos para controlar os sintomas – e eles se concentram em restaurar os níveis de dopamina.

Mas os pesquisadores do King’s College sugerem, em artigo publicado na revista científica Lancet Neurology, que as mudanças nos níveis de serotonina no cérebro acontecem primeiro – e podem agir como um sinal de alerta precoce.

Os pesquisadores analisaram os cérebros de 14 pessoas de vilarejos remotos no sul da Grécia e na Itália, todos com mutações raras no gene SNCA, o que torna quase certo que desenvolvam a doença.

Metade desse grupo já havia sido diagnosticado com Parkinson, enquanto a outra metade ainda não apresentava nenhum sintoma, fazendo deles candidatos ideais para estudar como a doença se desenvolve.

Ao comparar o cérebro deste grupo com o de outros 65 pacientes com Parkinson e 25 voluntários saudáveis, os pesquisadores conseguiram identificar mudanças cerebrais precoces em pacientes na faixa de 20 e 30 anos.

As alterações foram encontradas no sistema da serotonina, substância química que tem muitas funções no cérebro, incluindo a regulação do humor, apetite, cognição, bem-estar e movimento.

‘Poderia abrir portas’

O principal autor do estudo, Marios Politis, do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College, afirma que as anormalidades foram identificadas muito antes dos distúrbios de movimento começarem e antes dos níveis de dopamina terem mudado.

“Nossos resultados sugerem que a detecção precoce de alterações no sistema de serotonina poderia abrir portas para o desenvolvimento de novas terapias para retardar e, finalmente, prevenir a progressão da doença de Parkinson”, explica.

Derek Hill, professor de diagnóstico por imagens da University College London (UCL), no Reino Unido, diz que a pesquisa forneceu alguns conhecimentos valiosos, mas também apresenta algumas limitações.

“Os resultados podem não ser escalados para estudos maiores”, avalia.

“Em segundo lugar, o método de imagem usado é altamente especializado e limitado a um número muito pequeno de centros de pesquisa, por isso ainda não é útil para ajudar a diagnosticar pacientes ou até mesmo para avaliar novos tratamentos em grandes estudos clínicos.”

“A pesquisa encoraja, no entanto, a abordagem de tentar tratar o Parkinson o mais cedo possível, o que é provavelmente a melhor oportunidade de impedir o crescente número de pessoas cujas vidas são destruídas por essa doença hedionda.”

Beckie Port, gerente de pesquisa da instituição Parkinson’s UK, no Reino Unido, ressalta que são necessários estudos complementares:

“Mais pesquisas são necessárias para entender completamente a importância desta descoberta – mas se for capaz de revelar uma ferramenta capaz de medir e monitorar como o Parkinson se desenvolve, isso pode mudar inúmeras vidas.”

G1