O verão está chegando e em muitas cidades brasileiras isso significa tardes de temperatura muito elevada e aquela sensação de desconforto. Mas será que a expressão “morrer de calor” faz sentido para a ciência ou é só um exagero de quem não gosta muito dessa época do ano?
De acordo com Paulo Saldiva, médico e diretor do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo), o nosso corpo pode entrar em colapso no calor, o problema é que a temperatura exata em que isso pode acontecer depende de fatores ambientais, da idade e da saúde de cada indivíduo.
“Em câmaras de exposição, testes que são feitos com pessoas jovens e normais, o risco começa quando a temperatura chega aos 42ºC. Neste momento, a pessoa começa a perder volume e não resistiria por muito tempo”, diz Saldiva, que pesquisa o impacto das cidades na saúde humana.
Esses ambientes de teste, porém, não reproduzem o mundo real, onde esse limite pode ser bem menor, de acordo com o conforto térmico dos espaços em que as pessoas vivem, de doenças crônicas pré-existentes e da faixa etária de cada um.
“As cidades brasileiras não estão preparadas para as amplas variações de temperatura ao longo do ano. Então as pessoas costumam passar frio e calor dentro de casa, porque não há isolamento térmico”, explica.
Além disso, Saldiva diz que a possibilidade de alguém morrer de calor é maior nas periferias das grandes cidades brasileiras, onde as habitações costumam ser mais precárias, os bairros têm menos áreas verdes e as temperaturas podem ser mais altas do que nos bairros de classe alta.
Existem ainda diferenças regionais, já que o nosso corpo se acostuma à média das temperaturas do lugar em que vivemos. Em São Paulo, o pesquisador da USP afirma que as mortes podem ocorrer quando os termômetros ultrapassam 28ºC e ele estima que elas correspondam a mil óbitos em média por ano.
“Em Teresina, as pessoas suportam bem quando os termômetros marcam até 34ºC, mas podem começar a morrer de frio com 25ºC”, diz. “Existe a adaptação tantos das construções a altas temperaturas quanto da quantidade de gordura marrom no corpo para uma determinada faixa de conforto térmico”, diz o médico, que participa de um grupo que pesquisa essas variações em diferentes cidades do Brasil e do mundo.
Gordura é a proteção natural
A gordura marrom é um tipo de tecido adiposo que os mamíferos desenvolveram para a manutenção da temperatura corporal. Esse tipo de gordura é maior em bebês, já que eles não têm outros mecanismos de controle tão desenvolvidos.
Em condições normais de saúde, o corpo dos adultos também faz essa regulação térmica por meio do suor, dos pelos e da vasoconstrição ou vasodilatação –quando os vasos abrem ou se contraem, aumentando ou diminuindo a pressão do sague e os batimentos cardíacos.
No caso dos idosos ou doentes crônicos, esses mecanismos podem não funcionar tão bem e, por isso, eles são os mais sensíveis às ondas de calor.
“Nesses casos, as altas temperaturas fazem com que o corpo perca um volume grande de água por meio da transpiração, então algumas pessoas podem desidratar, especialmente crianças e idosos, sem a sensação subjetiva de sede”, diz Saldiva.
Cuidado com a desidratação
Os principais sinais de desidratação são urina escura e concentrada, bem como a sensação de que a língua e as pálpebras estão mais secas.
Sem água suficiente no corpo, o sangue começa a se concentrar e pode formar coágulos ou aumentar muito a pressão sanguínea, causando infartos e arritmia. Nos dois casos, as vítimas mais frequentes são pessoas com doenças cardiovasculares pré-existentes.
Para evitar problemas nos dias mais quentes, o médico recomenda então o cuidado maior com crianças e idosos, que precisam tomar mais água; evitar exercícios físicos nos períodos mais quentes do dia, entre 10h e 16h; e manter a casa ventilada, abrindo as janelas e usando um bom ventilador.
UOL