Brasília - O o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assiste a presidenta afastada Dilma Rousseff fazer sua defesa diante dos Senadores durante sessão de julgamento do impeachment. ( Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ato de lançamento das diretrizes do programa de governo da chapa Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), nesta terça-feira (21), em São Paulo, foi marcado pelo protesto de bolsonaristas que entraram no local e por uma queixa pública do vereador da capital Eduardo Suplicy (PT).

O manifestante Caíque Mafra, pré-candidato a deputado estadual em São Paulo pelo Republicanos, entrou no salão do evento, em um hotel nos Jardins (região central), durante os minutos finais da fala de Lula e chamou o ex-presidente de corrupto. O petista foi surpreendido, mas não deu resposta.

O bolsonarista também gritou em direção a Alckmin uma frase sobre “voltar para a cena do crime”, em alusão a uma fala do ex-governador sobre o PT quando ainda era adversário.

O grupo de manifestantes era formado por outros dois detratores do petista. Eles foram encaminhados para a delegacia. Em uma rede social, Mafra confirmou que era ele na cena e escreveu: “Questionei o corrupto do Lula e o Alckmin por sua fala e também chamei o corrupto de corrupto”.

Mafra é ativista conservador, ex-filiado do PSDB, apoiador do pré-candidato a governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e defensor da família Bolsonaro nas redes sociais.

Após o protesto, os manifestantes foram retirados por assessores e seguranças, e a polícia foi chamada. Lula chegou a interromper sua fala e abreviou seu discurso. Alckmin ficou em silêncio, com o semblante sério. “Eu nem sei o que…”, disse o petista sobre a situação, virando-se para o vice.

A plateia, formada por membros da campanha e simpatizantes, buscou abafar a confusão com palmas e um coro de “olê, olê, olá, Lula, Lula”.

O evento foi marcado também por uma manifestação pública de Suplicy, que se levantou da plateia e foi até a mesa onde estava Aloizio Mercadante (PT), coordenador do programa de governo, reclamar da abordagem sobre renda básica de cidadania, sua bandeira de vida.

Suplicy, em pé, interrompeu o ex-ministro para dizer que a proposta “não foi considerada” entre os itens principais do documento e que sempre está nos planos do partido, mas não sai do papel.

O ex-senador disse, em tom exaltado, que não foi convidado para os debates sobre o documento. “Não me convidou para essa reunião”, disse, estendendo os braços para Mercadante em protesto. “E continuarei trabalhando muito para que Lula e Alckmin instituam a renda básica de cidadania.”

Mercadante disse que ele cometia uma injustiça ao dizer que o tema não estava no texto e leu o trecho sobre a proposta, reforçando a menção genérica por se tratar de uma lista de diretrizes, cuja discussão está na fase inicial para definir “as linhas gerais do programa”.

“Você poderia olhar com mais cuidado”, respondeu o coordenador. A questão aparece no tópico sobre o Bolsa Família, que prega uma reformulação profunda do programa, “por etapas, no rumo de um sistema universal e uma renda básica de cidadania”.

O ex-ministro disse que o colega de partido será chamado para as próximas conversas e minimizou o embaraço, não sem antes recordar que “está acostumado” ao comportamento do correligionário, de quem já foi líder na bancada do Senado. Suplicy já fez desabafos públicos em outras ocasiões.

Lula, em gesto para apaziguar os ânimos, afirmou que Suplicy está correto ao fazer a reclamação e disse que, se pudesse, já teria dado um prêmio Nobel ao vereador pela longa dedicação à renda básica.

O ex-presidente fez um desagravo ao correligionário e elogiou sua pauta. “Se Deus quiser, nós haveremos de implantá-la um dia no país”, afirmou, observando que o tema se tornou ainda mais relevante diante da crise econômica agravada pela pandemia de Covid-19 e pela crescente mecanização.

 

Fonte: Folhapress (Catia Seabra e Joelmir Tavares)