Com a população tendo maior acesso e passando mais tempo na internet, ela também termina mais exposta a criminosos que se aproveitam do ambiente para aplicar golpes. De acordo com o delegado Anchieta Nery, titular da Delegacia de Repressão e Combate aos Crimes de Informática (DRCI), o chamado  “estelionato virtual” está relacionado mais ao pouco entendimento do usuário com a mecânica das plataformas do que à falta de segurança destas.

“A quantidade de estelionatários virtuais só aumenta ano a ano. A criminalidade violenta de rua aprendeu que é muito mais fácil enganar uma pessoa na internet do que botar a arma na cabeça de alguém no meio da rua, porque o usuário ainda é muito crédulo, acredita em tudo que vê. Então qualquer historinha pode render um golpe, até um trote”, alerta o agente de segurança pública piauiense.

O delegado pontua que os principais alvos dos golpistas são aquelas consideradas mais vulneráveis, como idosos e pessoas com pouca instrução. Apesar disso, usuários mais inteirados com as ferramentas virtuais também acabaram caindo em delitos. É o caso do engenheiro agrícola de 42 anos, que prefere não revelar a identidade, que teve uma de suas redes sociais invadidas após clicar em um link suspeito.

“Fui abordado com uma mensagem e ele conseguiu entrar no meu Instagram. Depois disso, começou a fazer vários anúncios de venda de produtos, mas graças a Deus consegui avisar meus contatos e ninguém comprou nada. Consegui resgatar a conta entrando em contato com a plataforma, retirando o email que o golpista já tinha mudado, e acionado um modo de segurança”, relatou a vítima.

Decisão judicial

Apesar de ter conseguido reaver o perfil que havia sido invadido por criminosos, muitos usuários não conseguem o mesmo sucesso e terminam criando uma nova conta na plataforma. Recentemente, o juiz Carlos Alberto Bezerra Chagas, da 1ª Vara Criminal de São Raimundo Nonato, determinou que a empresa Meta, proprietária do Instagram e Facebook, recupere perfis de vítimas que tiveram suas contas invadidas e desative as contas fraudulentas.

Na sentença, o magistrado deu um prazo de 72 horas para a empresa Meta Platforms Inc atender o pedido da Polícia Civil. A ação foi impetrada pela DRCI, após uma idosa reportar ter sido vítima deste tipo de ação. Na decisão, segunda no país relativa a esses casos, o magistrado fixou multa de R$ 10 mil por dia em caso de descumprimento.

Prejuízo financeiro

Embora o engenheiro teresinense citado anteriormente destaque não ter sofrido prejuízo financeiro com o golpe, várias outras vítimas acabam tendo perdas significativas. Anchieta Nery explica que na maioria das vezes em que o estelionato é concretizado com algum tipo de pagamento, é muito difícil que a polícia consiga fazer a recuperação do valor perdido.

“Na imensa maioria das vezes você não consegue minimizar isso, porque geralmente você já fez uma transferência por meio de pix, que compensa na mesma hora. Sempre que você joga o dinheiro na mão do ladrão, ele não dorme no ponto, ele não vai deixar esse dinheiro dormir na conta, vai se movimentar. Então o ideal é não ser vítima”, ressalta o delegado.

Os tipos mais comuns de golpes

Além das mais variadas modalidades de delitos na internet, os golpistas também atualizam suas práticas para se adaptar a novos contextos. Ainda assim, alguns crimes ainda são bastante comuns nas redes. Um dos mais famosos são links com oferta de emprego com salários atrativos, muitas vezes em meio período.

“Essas mensagens de texto oferecendo emprego, que são com portugues e construção textual bem ruim, partem de fora do Brasil. A gente pensa que ninguém vai acreditar naquilo, mas eventualmente uma ou outra acredita. Quem está verdadeiramente procurando emprego sabe que isso não existe, mas temos muitas pessoas na nossa sociedade que são intelectualmente vulneráveis”, lembra Anchieta Nery.

O delegado ainda cita que os golpistas também costumam se passar vendedores de eletrônicos e por prestadores de serviços, como locação de veículos. Na maioria dos casos, os criminosos atraem as vítimas oferecendo produtos com valores muito abaixo do mercado, um detalhe que o usuários deve ficar atento ao ser abordado ou se deparar com algum anúncio em sites e redes sociais.

Por conta disso, a orientação é nunca acreditar de primeira em anúncios muito vantajosos. “Sempre desconfie de tudo. Você não pode acreditar em uma publicação só porque achou o preço muito abaixo do mercado, ou porque um site novo, que você ainda não conhece, diz que está em promoção. Cabe aquilo que nossa avó sempre dizia: quando a esmola é demais o santo desconfia”, finaliza o delegado.

Quem são os golpistas?

A grande maioria dos golpes virtuais investigados pela DRCI são de criminosos de fora do estado e até mesmo de outros países. “Mais de 90% dos autores são de outros estados, e cerca de 10% são de África e do Leste Europeu, por exemplo”, informa o titular do órgão, expondo o quão complexo é o combate aos grupos que cometem esses golpes em piauienses.

O delegado explica que como os golpistas estão fora do estado, as investigações dependem de diligências e colaboração de empresas multinacionais e podem durar até um ano e meio para serem concluídas. Apesar disso, Anchieta Nery garante que apesar dessas dificuldades, os crimes virtuais são possíveis de serem solucionados.

“Não é tecnicamente difícil, só complexo e demorado. A polícia tem condições de chegar em quem comete crime virtual? Tem, só que existe todo um caminho para percorrer, que envolve polícia, Ministério Público, Judiciário e empresas multinacionais”, conclui o delegado.

 

 

Breno Moreno
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