Em 2024, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deixará de ser uma prova única e se tornará um conjunto de avaliações, que incluirão questões discursivas, além das já conhecidas perguntas de múltipla escolha. A segunda fase do exame permitirá que o estudante opte por uma entre quatro áreas de conhecimento. O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou na segunda-feira, 14, um parecer que propõe adequação do processo seletivo ao Novo Ensino Médio. Banco de questões vai ser desafio.

O texto inicial que deu origem à atual proposta, foi aprovado ainda em dezembro do ano passado. Cabe ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), agora, propor as matrizes para a elaboração das provas. A relatora do parecer é a presidente do CNE Maria Helena Guimarães de Castro.

O marco legal do Novo Ensino Médio, que começou a ser implantado neste ano, se baseia na flexibilização curricular, com a possibilidade de se aprofundar em determinada área do conhecimento ou trilhar um itinerário técnico-profissionalizante Porém, abriga aprendizagens essenciais e obrigatórias a qualquer estudante, alinhadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Essa flexibilização exige que o Enem seja também flexível. “O ENEM atual […] avalia da mesma forma todos os candidatos inscritos e não abre espaço para avaliar diferentes trajetórias dos estudantes, independente de suas escolhas profissionais”, diz o documento aprovado, mas ainda em revisão, ao qual o Estadão teve acesso.

O parecer propõe que o exame aconteça em duas etapas. A primeira avaliará a formação comum e obrigatória. Já a segunda vai focar no itinerário formativo individual de cada estudante.

A primeira fase vai contar com questões interdisciplinares e de solução de problemas, seguindo a BNCC. Ela pretende avaliar a “capacidade de raciocínio e argumentação do estudante”. Para isso, além das questões, terá prova de redação.

A segunda etapa foca na trajetória acadêmica optativa de cada estudante. O parecer sugere a criação de quatro áreas de conhecimento: Ciências, tecnologia, engenharia e matemática (classifica alunos para cursos das engenharias, química, matemática, física e computação, entre outros); Ciências sociais aplicadas (cursos de economia, administração, contabilidade, ciências sociais, direito); Humanidades, Linguagens e Artes (cursos de filosofia, história, geografia, artes, letras, pedagogia); e Ciências biológicas e saúde (cursos de medicina, enfermagem, fisioterapia, biologia, meio ambiente). O aluno poderá escolher apenas uma delas.

A aferição do repertório do estudante manterá a Teoria de Resposta ao Item (TRI), aplicada atualmente. A inclusão de questões discursivas, consenso entre especialistas ouvidos pelo CNE, vai exigir “uso de um sistema de correção com inteligência artificial para garantir a divulgação dos resultados dentro de um prazo razoável”.

O parecer ainda destaca, como objetivos, a transição completa da avaliação para digital. Além da possibilidade futura da aplicação das provas mais do que uma vez ao ano, com centros de testagem espalhados pelo País, assim como acontece nos Estados Unidos.

O principal desafio citado no documento é o banco de itens pré-testados. Será preciso preparar novas questões que se adequem à BNCC e à nova arquitetura do ensino médio.

As instituições de ensino superior caberá deverão considerar os resultados das duas etapas do exame. Porém, terá liberdade para “eleger a forma mais adequada de seleção do perfil de estudante desejado para cada um de seus cursos de graduação”.

História do exame

Criado em 1998, o Enem ganhou a cara que se conhece hoje só em 2009. A partir daquele ano, consolidou-se como principal porta de entrada dos estudantes ao ensino superior no País.

O exame passou a ser aplicado em dois dias, com quatro provas divididas em Linguagens e códigos e suas tecnologias, Ciências da Natureza e suas tecnologias, Ciências Humanas e suas tecnologias e Matemática e suas tecnologias, além de uma redação No total, são 180 perguntas de múltipla escolha.

‘Conteudista’

O parecer aprovado separa a história do Enem em dois momentos distintos: o exame original, de 1998 até 2008, e o atual, de 2009 até hoje.

Ao se tornar uma espécie de “vestibular nacional” em 2009, o documento avalia que a prova se tornou conteudista. “O ENEM atual descaracteriza o ENEM original, que visava romper os vínculos tradicionais do ensino médio com o vestibular, e recupera o sentido de uma educação básica comprometida com o ensino superior”, diz. “O impacto do ENEM atual sobre o currículo do ensino médio reforçou ainda mais seu caráter conteudista, reduzindo o ensino médio à etapa preparatória de acesso ao ensino superior”.

Fonte: Estadão Conteúdo