O recuo nas cotações internacionais do petróleo cinco dias após os mega-aumentos da Petrobras fez com que o preço do diesel no Brasil fechasse esta terça-feira (15) mais caro do que a paridade de importação, conceito usado pela Petrobras que considera o custo para trazer o produto do exterior.
Em resposta a preocupações sobre novos surtos de Covid-19 na China, o petróleo Brent, referência internacional negociada em Londres, caiu 5,73%, arrastando consigo as cotações dos derivados de petróleo usados como referência na política de preços da Petrobras.
Importadores de combustíveis defendem, porém, que ainda não é momento de reduzir os preços, como quer o presidente Jair Bolsonaro (PL), já que o mercado tem apresentado grande volatilidade desde o início da guerra na Ucrânia.
Dados da Abicom (Associação Brasileira de Importadoras de Combustíveis) mostram que, após o recuo das cotações do petróleo, o preço médio do diesel no Brasil ficou R$ 0,27 por litro acima da paridade de importação.
A gasolina, por sua vez, permanece pouco abaixo: R$ 0,05 por litro. Os dois produtos tiveram reajustes nas refinarias da Petrobras na sexta (11), após 57 dias com preços inalterados. A estatal elevou o diesel em 24,9% e a gasolina em 18,8%.
É a primeira vez que o preço médio do diesel no Brasil fica acima da paridade de importação desde meados de dezembro. Um dia antes do reajuste da Petrobras, estava R$ 1,17 por litro mais barato. Dois dias antes, a diferença era de R$ 2,54 por litro.
A defasagem da gasolina, por sua vez, é a menor também desde meados de dezembro.
“Não é hora de reduzir, a volatilidade está muito alta”, diz o presidente da Abicom (Associação Brasileira das Importadoras de Combustíveis), Sérgio Araújo.
“O câmbio também está muito instável. Se reduzir o preço, o risco de desabastecimento ficará muito alto.”
Ele defende que as empresas importadoras precisam ter segurança para voltar ao mercado depois de meses com poucas oportunidades para trazer produtos do exterior. Um pedido de importação leva entre 45 a 60 dias para chegar ao Brasil.
Na Bahia, abastecida pela primeira refinaria privada brasileira, o preço do diesel está R$ 0,43 acima da paridade de importação, segundo a Abicom.
Controlada pelo fundo árabe Mubadala, a Refinaria de Mataripe tem repassado as altas do mercado internacional com mais frequência.
Os reajustes da Petrobras provocaram forte reação entre consumidores, no mundo político e no próprio governo. Se a tendência de queda das cotações internacionais se mantiver, a pressão por cortes de preços da Petrobras deve se intensificar.
Nesta terça, Bolsonaro disse que “com toda a certeza” a Petrobras vai reduzir o preço dos combustíveis, cobrando da empresa um ajuste nos valores diante da queda do valor da cotação do petróleo nos mercados globais nos últimos dias.
“Estamos tendo notícia de que nos últimos dias o preço do petróleo lá fora tem caído bastante. A gente espera que a Petrobras acompanhe a queda de preço lá fora. Com toda certeza fará isso daí”, disse, durante cerimônia no Palácio do Planalto.
No primeiro fim de semana após o reajuste da Petrobras, o preço médio da gasolina no país chegou a R$ 7,47 por litro, segundo levantamento feito a pedido do jornal Folha de S.Paulo pela empresa de gestão de frotas ValeCard.
O valor é superior ao recorde verificado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) em novembro de 2021, de R$ 6,795, já corrigido pela inflação.
Fonte: Folhapress