O senso comum tende olhar a magreza como um sinal de saúde e a obesidade como um sintoma de doença. Mas um estudo publicado na revista científica iScience, no mês setembro, indica que as atividades físicas são os reguladores mais indicados para avaliar se uma pessoa está saudável, com menos riscos de contrair doenças cardiovasculares, problemas com a pressão arterial e até diabetes, e, consequentemente, ter uma vida mais longa.
Para a endocrinologista, Maria Edna de Melo, presidente do departamento de obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), é indiscutível a necessidade de termos uma atividade física regular.
“É o que chamamos de polypill, melhora a saúde física, mental. Os benefícios, independentemente da questão do peso, são inúmeros. Reduz mortalidade, melhora ansiedade, depressão, melhora até mesmo nosso comportamento alimentar. E os benefícios são de curto, médio e longo prazos”, ressalta a médica.
E acrescenta: “tem estudos que mostram que pessoas com peso menor, sem gordura visceral, mas que não têm boa condição física, apresentam alta taxa de mortalidade. A atividade física acaba reduzindo o risco de doenças”, aponta ela.
No caso de pessoas obesas, o bom condicionamento físico e a frequência de atividades são ainda mais indicados do que a perda de peso exclusivamente, apontou o estudo.
Cientistas da Universidade do Arizona e de Virgínia, ambas nos Estados Unidos, analisaram pesquisas já feitas sobre emagrecimento e exercícios em homens e mulheres e descobriu que pessoas acima do peso, normalmente, reduzem os riscos de doenças cardíacas e morte prematura muito mais ganhando forma física, do que diminuindo o número na balança ou fazendo dieta.
Ao verificar mais de 200 trabalhos feitos e publicados, os pesquisadores perceberam que homens e mulheres obesos e sedentários diminuem o risco de morte prematura em 30% ou mais, assim que começam a se exercitar e melhorar a forma física, independentemente da perda de peso.
“As pessoas pensam: fiz caminhada a semana toda por uma hora e não perdi nada de peso. Nem não vai perder, porque o gasto com caminhada é muito baixo e ainda não é tudo o que esperamos. Então, é importante ter noção do que a atividade física vai trazer. Não perdeu peso, mas dormiu melhor, a ansiedade ficou mais controlada”, diz Edna.
Já, em casos de obesos que emagreceram com dietas, o risco de morte cai cerca de 16% em algumas pesquisas e em outras, a mortalidade nem diminui. “Muitas condições de saúde relacionadas à obesidade são mais atribuíveis a baixos níveis de atividade e condicionamento físico do que à obesidade em si. Boa condição física e exercícios frequentes diminuem, significativamente, e às vezes eliminam, o aumento do risco de mortalidade associado à obesidade. Além de estar associado a maior redução no risco de todas as causas e mortalidade por doenças cardiovasculares do que a perda de peso intencional”, explicaram os pesquisadores na publicação.
Os cientistas deixam claro que os achados não significam que a obesidade não seja um problema de saúde. Eles propõem mudança no tratamento da doença, que é considerada uma pandemia pela a OMS (Organização da Saúde).
A sugestão é que a solução não esteja centrada apenas na perda de peso e em atingir os números considerados ideal pelo IMC (índice de massa corporal) para pessoa ser considerada com magra, com sobrepeso ou obesa.
“Uma abordagem de peso neutra pode ser tão ou mais eficaz do que uma abordagem centrada na perda de peso e pode evitar armadilhas associadas ao fracasso repetido na perda de peso. A estratégia é mudar o foco da perda de peso para o aumento da atividade física e melhoria da aptidão cardiorrespiratória”, escreveram os autores.
A endocrinologista entende que, cada vez mais, o tratamento da obesidade tem se tornado claro sobre a necessidade de melhorar a saúde e não simplesmente emagrecer. “O objetivo é ficar bem, não emagrecer. O peso considerado ideal de IMC, para algumas faixas etárias, é inatingível. Quando uma pessoa que tem 60 de IMC e chega a 40, ela está muito bem, mesmo sendo considerado uma obesidade de grau 3”, explica Maria Edna.
A atividade física frequente serve como aliadas à melhora na condição de saúde, mesmo que algumas pessoas critiquem por dar mais fome nas pessoas, conforme explica a médica.
“Tem pessoas que falam mal de exercícios, porque sentimos muita fome depois da atividade. Sim, vamos ter mais fome porque usou mais energia. Mesmo assim, tem estudo que mostra que comemos um pouquinho mais, mas, considerando o que que gastamos, seguimos com déficit calórico. Então, vale a pena sempre”, conclui Maria Edna Melo.
R7