Doença é associada ao consumo de peixes como o badejo — Foto: All Angle/ Reprodução

A Síndrome de Haff, conhecida popularmente como “doença da urina preta”, acometeu duas mulheres que consumiram peixe no Recife e pacientes em cidades da Bahia, neste mês. De acordo com médicos, a enfermidade pode levar à degradação de músculos e a outros sintomas mais graves, como insuficiência renal.

O que é a Síndrome de Haff?

De acordo com infectologistas, a Síndrome de Haff é causada pela ingestão de pescado contaminado por uma toxina capaz de causar necrose muscular, ou seja, a degradação dos músculos. Outros sintomas da doença são decorrentes desse quadro.

O que causa a Síndrome de Haff?

De acordo com o infectologista Tiago Lôbo, a doença está associada ao consumo de peixes como arabaiana, conhecido como olho de boi, e badejo. No entanto, a forma como o animal é contaminado pela toxina que provoca a doença não é consenso entre especialistas.

“A doença ocorre quando a gente consome peixe com uma toxina que provavelmente é associada ao consumo de algas marinhas”, disse Lôbo, que trata casos da doença na Bahia, onde houve um aumento de mais de 200% dos casos no mês de fevereiro.

“A principal teoria é que as algas carregam toxinas, esse peixe come e a toxina fica armazenada na carne do peixe. O paciente acaba sendo intoxicado durante a ingestão e a toxina vai para os músculos”, explicou o médico.

No entanto, o médico infectologista Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirmou que a doença está associada ao acondicionamento dos pescados. “A hipótese principal é a de que, mal conservados, os peixes acabam produzindo uma toxina que tem uma ação direta no músculo, provocando algo chamado rabdomiólise, uma necrose muscular”, disse.

O infectologista pernambucano Filipe Prohaska, por sua vez, afirmou que existem estudos sobre essas duas formas de contaminação dos peixes, mas a por meio de algas com a toxina está em fase de estudos.

“Se fosse um problema de transporte ou de vários peixes, deveríamos ter mais casos, mas no Recife, tivemos casos específicos”, afirmou.

Segundo Lôbo, a doença também pode ocorrer com o consumo de outros tipos de frutos do mar. “No caso de acarajés ou moquecas que levam o peixe contaminado, é possível que a toxina também esteja lá, mas não é tão comum”, afirmou.

O médico Paulo Olzon também associou o tambaqui, peixe de água doce, à Síndrome de Haff.

Por que a urina fica escura?

Um dos sintomas Síndrome de Haff, a urina escurecida é uma consequência da liberação de uma substância chamada miogobina no corpo. Essa proteína, tóxica para os rins, é liberada pelo próprio organismo, com a necrose muscular – outro sintoma provocado pela Síndrome.

“Quando ocorre a necrose muscular, existe uma proteína chamada mioglobina que tem uma cor escura e acaba passando para a urina. Os sintomas da síndrome acabam sendo decorrentes da necrose muscular”, disse o infectologista Paulo Olzon.

Quais os outros sintomas?

Além das dores musculares e da urina escurecida, a doença pode gerar outros sintomas. Confira quais são:

Náusea
Vômito
Diarreia
Febre
Vermelhidão na pele
Falta de ar
Dormência no corpo
Insuficiência renal

Segundo Tiago Lôbo, o aparecimento dos sintomas pode ocorrer entre quatro e seis horas após a ingestão de peixe, mas há casos de pacientes com sintomas após dois ou até três dias do consumo. “Vai depender de cada indivíduo. O aparecimento dos sintomas também depende muito da quantidade de toxina ingerida”, explicou o infectologista.

O que fazer em caso de aparecimento dos sintomas?

O primeiro passo, segundo o infectologista, é a hidratação em casa. “É importante procurar se hidratar e procurar atendimento médico assim que os sintomas aparecerem”, afirmou Lôbo.

No hospital, o aumento da enzima CPK é um fator associado à doença, que pode facilitar o diagnóstico do paciente. “A degradação muscular também aumenta a presença dessa enzima. Isso serve de orientação para o diagnóstico e também para a alta”, disse Lôbo.

Qual o tratamento?

Além da hidratação, o tratamento também é feito com analgésicos, de acordo com os sintomas apresentados. “O tempo de cura é extremamente variável. Vai depender da intensidade da doença para poder traçar um relatório. Crianças, adultos e idosos podem ser acometidos da mesma forma”, afirmou Lôbo.

Como é possível prevenir a Síndrome de Haff?

De acordo com Tiago Lôbo, não há um antídoto ou uma forma de identificar a toxina nos peixes. “A toxina não modifica a cor do peixe, o cheiro ou o gosto. Também é termoestável, ou seja, não é destruída em altas temperaturas de cozimento. Por isso a gente não vai conseguir identificar”, afirmou o infectologista.

“Mesmo estando muito bem armazenado, tratado e conservado, não é indicativo de que o peixe esteja sem a toxina”, disse o médico. A prevenção, segundo o infectologista, é evitar o consumo de peixes como arabaiana e badejo, já associados à doença.

Já o infectologista Paulo Olzon afirmou que a síndrome é rara, não sendo necessária a suspensão do consumo de peixe. “É uma situação muito peculiar. [Os casos] são um exemplo raro. Com certeza o peixe não foi conservado de uma forma muito correta”, disse.

Nota da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR):

“A Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), entidade de âmbito nacional que reúne os diversos elos da cadeia produtiva dos peixes de cultivo, esclarece que a tilápia não pode ser responsabilizada nem ter sua imagem associada a eventuais casos da Síndrome de Haff (Doença da Urina Negra) em seres humanos. Divulgações nesse sentido decorrem de desconhecimento e desinformação de alguns veículos de comunicação.

A ciência comprova que a Síndrome de Haff, sim, pode ser causada pela ingestão de peixes marinhos (água salgada) contaminados.

O Brasil é o 4º maior produtor mundial de tilápia. A cadeia de produção dessa espécie é industrial e verticalizada. A tilápia é criada em água doce, com total rastreabilidade. As empresas produtoras utilizam rígidos protocolos sanitários e de bem-estar animal, conferindo à tilápia status de alta segurança alimentar”.

G1