O Piauí teve o quarto maior crescimento na taxa de Mortes Violentas Intencionais (MVI) do país em 2020, mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus. Foram 707 mortes, contra 587 em 2019, um aumento de 20,1%. É o que mostra o Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado nessa quinta-feira (15).

No ano passado, o país não só teve que conviver com a dor das milhares de mortes por Covid-19, mas com a retomada do crescimento das Mortes Violentas Intencionais (MVI), categoria que soma homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais.

De acordo com o Anuário, 16 estados tiveram crescimento da violência letal no último ano. O maior crescimento se deu no Ceará, com 75,1% de aumento na taxa de mortalidade em relação a 2019. Na sequência os maiores crescimentos ocorreram no Maranhão, com 30,2%, Paraíba com 23,1% e Piauí.

O anuário tem dados de segurança pública relativos ao ano de 2020, referentes aos 26 estados e ao Distrito Federal. As informações se baseiam em dados fornecidos pelas secretarias de segurança pública estaduais, pelas polícias civis, militares e federal dos casos que foram registrados pelas autoridades policiais.

Mortes violentas estão ligadas à soltura de presos

O Anuário apontou várias as hipóteses para os aumentos. Para alguns analistas, o aumento dos homicídios em 2020 nesses estados possivelmente está vinculado às dinâmicas de grupos criminosos organizados, dada a redução da circulação de pessoas, a redução dos crimes contra o patrimônio no país todo (-27,6% dos roubos de veículos, -25,1% nos furtos de veículo, -27,2% roubos a estabelecimentos comerciais, -19,1% roubos a residência, -37,9% roubo a transeunte).

Por outro lado, no contexto da pandemia e isolamento social, segundo os analistas, houve piora das condições econômicas e crescimento do desemprego, bem como piora da saúde mental da população, que podem indiretamente agravar a curva da violência letal.

Também existiria a influência de variáveis socioinstitucionais. Parcela das polícias entende que a liberação de presos em virtude da pandemia, recomendada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), não foi feita de forma criteriosa e, por isso, foram soltos presos de todo tipo de periculosidade, inclusive membros de facções, homicidas, traficantes, entre outros. Isso, na visão de policiais, provocou desequilíbrios, aumentando instantaneamente a demanda que normalmente as polícias enfrentavam.

A curva ascendente na taxa de homicídios no Piauí, por exemplo, coincide com esse período de soltura dos presos na pandemia.

Porém, de acordo com a Pesquisa “Escuta de Policiais e demais profissionais da segurança pública do Brasil”, também publicada nesta edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, neste mesmo período, o Brasil teve 29,7% do efetivo dos profissionais da segurança pública (policiais, bombeiros militares e guardas municipais) contaminado pela Covid-19, gerando afastamentos e licenças médicas. Afinal, as forças policiais estaduais foram duramente afetadas pela Covid-19 e tiveram suas capacidades operacionais enfraquecidas.

O próprio secretário de Segurança do Estado, coronel Rubens Pereira, tinha afirmado que o crescimento de 2,4% nos crimes registrados no Piauí, de janeiro a maio de 2020, poderia ser uma consequência da liberação de presos das penitenciárias. O secretário se referiu à decisão judicial que transferiu centenas de detentos que estavam no regime semi-aberto para a prisão domiciliar, devido à pandemia da Covid-19. A medida foi prorrogada até 20 de janeiro de 2021.

Para o secretário de segurança, os crescimento desses tipos de crime pode ser sinal de que os presos liberados do sistema penitenciário estão disputando espaço fora das cadeias.

“Nós acreditamos que isso implicou nesse aumento da violência. Como os casos de latrocínio [roubo seguido de morte], que são pessoas ligadas à criminalidade violenta. Ninguém nasce latrocida. Ele começou furtando, cometendo pequenos delitos, para depois ir crescendo no mundo da criminalidade. Nós estamos desde o começo monitorando esse índice de violência e praticando ações para reduzir esse impacto”, destacou o secretário.

G1 PI