Aproximadamente 33% dos municípios brasileiros têm, no máximo, dez respiradores mecânicos nos hospitais públicos e privados. O equipamento é essencial para garantir a sobrevivência de pacientes com quadros severos da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Segundo o Ministério da Saúde, há 65.411 ventiladores mecânicos no país, sendo que 46.663 estão no Sistema Único de Saúde (SUS). Do total, 3.639 encontram-se em manutenção ou ainda não foram instalados. Não é viável prever, com exatidão, de quantos aparelhos o Brasil necessitará nas próximas semanas – dependerá do número de contaminações. Mas é possível dizer que a distribuição dos respiradores é desigual.
Veja um resumo da reportagem:
- Em 861 cidades, há apenas um ventilador mecânico disponível. A maior parte dos equipamentos está concentrada nas capitais.
- A previsão de um órgão latino-americano é de que, em um cenário de baixo impacto, faltem respiradores no Brasil em 15 dias.
- Os respiradores são os principais equipamentos necessários para o atendimento de casos graves da Covid-19.
- Provavelmente, faltarão profissionais de saúde para trabalhar nas UTIs e operar os respiradores mecânicos.
- Nos casos graves, pacientes com o novo coronavírus têm insuficiência respiratória. Os músculos trabalham mais para garantir a troca gasosa – e, com o esforço excessivo, sobrecarregam o coração.
- O ventilador mecânico trabalhará para auxiliar a respiração e “empurrar” o oxigênio para dentro dos pulmões. Sem o equipamento, um paciente em estado grave pode ter falência de órgãos e morrer.
- Os respiradores são caros. Por isso, universidades federais estão desenvolvendo projetos de aparelhos mais baratos, que possam ser usados em situações de emergência.
Distribuição desigual
Não há cidades sem nenhum equipamento. Mas, em 861 municípios, existe apenas um ventilador mecânico disponível. A maior parte dos respiradores está nas capitais: elas concentram 47% do total de aparelhos. São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Recife – as cinco capitais com maior quantidade absoluta – possuem 26% dos respiradores do Brasil.
Levando em conta o tamanho da população de cada Estado, os que têm melhor oferta são: Distrito Federal (1.420 habitantes para cada respirador), Rio de Janeiro (2.303), São Paulo (2.490), Mato Grosso (2.503) e Espírito Santo (2.760). As situações mais críticas, em que o número de habitantes para cada respirador é maior, estão nos seguintes locais: Amapá (9.122 moradores para um aparelho), Piauí (7.285), Maranhão (6.677), Pará (6.139) e Alagoas (6.087).
Segundo o Ministério da Saúde, há a expectativa de adquirir 17 mil respiradores. “Já adiantamos uma possível compra de 8 mil deles. Daria para acalmar São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, as capitais”, afirmou o ministro Luiz Henrique Mandetta, durante coletiva de imprensa na quarta-feira (1º).
Ele ressaltou que não é possível assegurar que todos esses equipamentos serão entregues – de acordo com o ministro, a disputa pelos aparelhos é grande. Mesmo depois da assinatura do contrato, alguém oferece mais dinheiro ao fornecedor e compra os aparelhos por um preço mais alto.
Estimativa de órgão latino-americano prevê falta de respiradores
A dificuldade de prever o déficit de ventiladores mecânicos no país é explicada por Gustavo Zabert, presidente da Associação Latino-Americana do Tórax e pneumologista na Argentina. Segundo ele, as estimativas não conseguem levar em conta:
- idade dos pacientes contaminados,
- doenças de base que eles podem apresentar,
- distribuição desigual de respiradores pelas cidades do mesmo país,
- nível socioeconômico dos atingidos
- e possibilidade de seguir o isolamento social.
O cálculo básico admite que 80% dos casos do novo coronavírus serão leves e 20% exigirão a ida ao hospital. Do total, 5% devem requerer o uso do ventilador respiratório.
Tendo como base, portanto, os critérios acima, e considerando que é apenas uma estimativa, Zabert calcula três cenários diferentes. No de baixo impacto, o Brasil teria respiradores por até 14 dias. No quadro mais grave, em que 2.300 pessoas são contaminadas a cada 1 milhão de habitantes, o país apresentaria déficit do equipamento antes do fim do terceiro dia.