“Me senti desafiada, porque achava que não conseguiria escrever uma redação com esse tema”, diz Fernanda Lima, reeducanda da Penitenciária Feminina de Teresina que venceu a terceira edição do concurso de redação promovido pela Defensoria Pública da União (DPU), que teve como tema “Menos grades e Mais Direitos”.
O concurso era exclusivo para alunos matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do ensino regular, mas, neste ano, incluiu pessoas privadas de liberdade nas penitenciárias do país. Além de incentivar a leitura e escrita, o concurso é uma oportunidade de mostrar os conhecimentos adquiridos no campo educacional.
“Quase não acreditei no resultado. Foi muito desafiador fazer uma redação com esse tema, porque, se eu estivesse lá fora, não saberia como escrever. E, aqui no presídio, eu tive a responsabilidade de escrever sobre o que eu e minhas colegas de cela passam e precisam”, relata Fernanda Lima.
O concurso teve 6.607 redações inscritas, das quais 5.044 foram de reeducandos do sistema prisional. O Piauí inscreveu 20 detentos – sendo 15 da Penitenciária Feminina de Teresina e 5 da Colônia Agrícola Penal Major César. Fernanda está presa há quatro meses e participa de projetos de ressocialização realizados na unidade.
Os classificados em primeiro lugar no concurso de redação ganharão um tablet – o prêmio será entregue no dia em que deixarem a prisão – e as respectivas unidades prisionais receberão uma premiação no valor de R$ 10 mil, para serem aplicados em equipamentos e projetos que contribuam para a educação dos detentos.
Na Penitenciária Feminina, Fernanda Lima participa do programa Mulheres Mil – desenvolvido pelas secretarias de Estado da Educação e de Justiça e que visa à capacitação profissional de detentas – e está no preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Quero fazer Enfermagem”, conta.
A coordenadora de Ensino Prisional, Jussyara Valente, destaca que “vimos que concorrer a esse prêmio seria uma oportunidade de mostrar os conhecimentos adquiridos pelos reeducandos em sala de aula, além de ser uma forma de motivar e mostrar a importância da educação na humanização do sistema prisional”.
Na visão da secretária de Educação, Rejane Dias, o Piauí vive um processo de valorização das mulheres. “O esforço do Governo do Estado é qualificar as reeducandas do sistema prisional com cursos profissionalizantes, educação básica e dando suporte para que ingressem no ensino superior”.
O secretário de Justiça, Daniel Oliveira, observa que os investimentos em educação no sistema prisional têm proporcionado resultados relevantes. De acordo com a Secretaria de Justiça, pelo menos 36% de detentos estudam, hoje, nos presídios, e houve um crescimento de 292% no número de presos estudando nos últimos três anos.
“Acreditamos que a educação é capaz de mudar a realidade dessas pessoas, afastando-as da criminalidade e colocando-as no caminho da cidadania. Portanto, nosso intuito é oferecer oportunidades de ensino, trabalho e assegurar direitos, para que elas possam, de fato, mudar de vida”, pontua o gestor.
G1