O Piauí não é destino, mas ponto de passagem para o tráfico de drogas. Foi essa a constatação a que chegou a Polícia Rodoviária Federal (PRF-PI), após fazer um mapeamento da rota dos entorpecentes no Estado e identificar os pontos mais críticos para apreensão dessas substâncias ilegais. As rodovias federais BR-230 e BR-316 são consideradas as principais vias de transporte de drogas no Piauí, segundo o levantamento, e um fator chama a atenção: a maior parte dos entorpecentes que aqui chegam vem do Estado de São Paulo, que é considerado um polo distribuidor para o país.

O levantamento da PRF foi solicitado pelo Portal O Dia. Em conversa com a reportagem, o porta-voz da corporação, inspetor Alexandro Lima, explica que o Brasil não tem uma tradição de produtor de entorpecentes, mas de distribuidor e beneficiador da droga. Isto significa dizer que boa parte das drogas traficadas no país vem de outros países, principalmente do Paraguai, e que as regiões de fronteira nacionais são portas de entrada para este comércio ilegal.

“Basicamente, a origem inicial é o Paraguai. Essa droga, ela é comercializada lá, entra pelas fronteiras e tem dois grandes centros de distribuição, que são a cidade e o estado de São Paulo. Para entrar aqui no Estado, os traficantes utilizam as rodovias que vêm do Sul e Sudeste, pela Bahia, e a porta de entrada no Piauí geralmente é a região de Barreiras, que faz fronteira com o estado baiano”, detalha o inspetor.

Uma vez no Piauí, as principais rotas de distribuição são a BR-230 e a BR-316. Uma parte destes entorpecentes fica aqui no Estado, mas boa parte segue para ser distribuída nos grandes centros urbanos das principais capitais do Nordeste, como Recife, Fortaleza e Salvador. Essa função do Piauí de rota de passagem da droga se deve justamente à extensão territorial estado, que faz fronteira com quase todas as unidades federativas do Nordeste. Daí o Piauí ser tido como ponto de passagem de traficantes.

“O Piauí é rota e não consumidor. Mas como ainda há uma quantidade considerável de entorpecentes que fica por aqui, nós estamos melhorando e intensificando esse mapeamento. De antemão, já detectamos, a partir das apreensões que fizemos recentemente, que o nosso Estado possui um tráfico muito forte de drogas com um alto grau de pureza, ou seja, o entorpecentes que chega aqui, vem para ser beneficiado e distribuído para os pontos de venda e consumo”, explica o porta-voz da PRF.

Recentemente, a PRF do Piauí apreendeu cerca de R$ 8 milhões em entorpecentes durante a Operação Lábaro, deflagrada em conjunto com as demais superintendências estaduais no Brasil. Foram 25,5 Kg de maconha e 133 Kg de cocaína. Esta última droga é produzida a partir de uma substância chamada cloridrato de cocaína, que possui um índice de pureza que chega a 98%.

De acordo com o inspetor Alexandro, um quilo de cloridrato pode ser transformado em 100 Kg de crack, que é a droga mais impura produzida a partir da matéria base da cocaína. São entorpecentes que, segundo a PRF, saem do Piauí beneficiados e têm como destino as grandes capitais do Nordeste.

Apreensões

A apreensão mais frequente feita pela Polícia Rodoviária Federal do Piauí é a de maconha. Mas nas últimas ações, a polícia tem tido êxito na apreensão de cocaína, principalmente do cloridrato. Levantamento solicitado pelo Portal O Dia à PRF aponta que, só 2019, já foram apreendidos 199,7 Kg de cocaína em território piauiense, 10 gramas de crack e 29,04 Kg de maconha.

Para efeito de comparação, as apreensões de maconha em 2019 (29,04 Kg) diminuíram 15 vezes em relação a 2018, quando foram apreendidos 443 Kg. Em contrapartida, as apreensões de cocaína este ano (100,7Kg) já são quatro vezes maiores que as apreensões no mesmo período do ano passado (44,74 Kg).

“Esses traficantes utilizam veículos de vários tamanhos para poder transportar essa droga e ela geralmente vem escondida no forro ou no estofado, por exemplo. Mas quando é uma quantidade pequena, eles muitas vezes utilizam mulas que vêm em ônibus interestaduais. Há ainda aqueles que tentam transportar quantidades enormes de entorpecente utilizando veículos de carga com a droga escondida entre o carregamento. Isso também tem se tornado comum”, explica o inspetor Alexandro.

Quando a PRF detecta a existência de entorpecentes nas barreiras, a droga e o condutor são imediatamente encaminhados para a Polícia Civil, onde é lavrado o auto de prisão e o material apreendido é inutilizado, geralmente incinerado.

“Estamos trabalhando para que coibir este tipo de crime aqui no Piauí, porque é sabido que o tráfico é o principal motor para a criminalidade. Organizações criminosas inteiras se desenvolvem em torno do comércio de entorpecentes e combatendo esta prática, estamos também combatendo, por tabela, outros ilícitos”, finaliza o inspetor.

O Dia