Hoje, 31 de maio, é celebrado o Dia Mundial sem Tabaco, e a data chama atenção para os riscos da substância. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de pulmão é o mais comum no mundo e o tabagismo é diretamente responsável por 80% das mortes nestes casos e 30% das mortes por outros tipos de cânceres, como de boca, faringe, laringe e estômago.
O médico psiquiatra do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU/Ufpi), Adriano Tupinambá, explica que o tabagismo expõe o organismo em contato com uma série de substâncias, causando prejuízos de ordem física, como aumento de risco de câncer, coronariana, infarto, acidente vascular cerebral (AVC), entre outros. Ele comenta ainda que as substâncias contidas no cigarro também aceleram, de maneira geral, a deterioração dos tecidos do corpo.
“O organismo do indivíduo tabagista envelhece mais rapidamente devido ao estresse oxidativo, à inflamação sistêmica em níveis mais elevados que nos demais indivíduos, e isso colabora para esse envelhecimento do organismo como um todo. Parar de fumar reduz a velocidade de que isso aconteça e alguns desses efeitos, inclusive ao longo dos anos de abstinência, são parcialmente revertidos, ou seja, os riscos de algumas doenças podem retroceder e chegam bem próximos aos riscos de um indivíduo não fumante”, cita psiquiatra.
Efeito psicológico
O especialista pontua ainda que fumar também causa efeitos psicológicos, mas que nem sempre são levados em consideração. Adriano Tupinambá comenta que o indivíduo tabagista tende a não ser muito bem aceito na comunidade, no seio familiar e de amigos e isso gera uma sensação de marginalização, de não interação social e constrangimento.
“Muitas vezes, se sente culpado por não conseguir parar ou dar exemplo para os filhos e, em algum momento, esse indivíduo começa a sentir que não tem muito controle sobre o consumo do cigarro e passa a se sentir escravizado. Tudo isso tem um impacto psicológico muito grande e, quando o indivíduo consegue interromper esse uso, esses efeitos psicológicos tendem a se atenuar”, ressalta.
Indivíduo precisa querer e aceitar tratamento
É importante enfatizar que, para que o indivíduo consiga para de fumar, é necessário que ele internalize essa vontade e aceite as condições, gerando um compromisso entre ele mesmo ao longo dos anos. Após parar de consumir o cigarro, esse indivíduo irá passar por uma fase de desconforto físico, devido à dependência que o organismo criou da substância, e também com manifestações psicológicas, como desejo intenso de fumar.
“Essa pessoa pode se sentir nervosa, irritada e é uma fase que dura alguns dias ou semanas e tende a se atenuar. Apesar disso, o maior desafio não é essa fase, mas é a longo prazo. O fumante não consome cigarro pelo desejo de fumar. Parte desse comportamento está estabelecido como hábito ou mania, então ele precisa se policiar para o resto da vida”, destaca o psiquiatra.
Adriano Tupinambá relata ainda que o tratamento costuma demorar aproximadamente um ano. Na fase inicial, o paciente costuma utilizar alguns recursos, como medicamentos ou adesivos de nicotina para reduzir as manifestações iniciais. “Porém, ao longo de todo o tratamento, é enfatizada a atitude vigilante, além de estratégias que visam ajudar o tabagista a aliviar essa sensação de consumir o cigarro”, completa.
Serviço gratuito
O Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU/Ufpi) desenvolve o Programa de Tratamento de Tabagismo da unidade há 11 anos. Desde que iniciou, já atendeu cerca de 1.500 pessoas com êxito no tratamento de mais de 50% de seus participantes.
O programa conta com profissionais nas áreas de medicina, enfermagem, psicologia, nutrição, serviço social, terapia ocupacional, farmácia e educação física. O tratamento dura um ano e ocorre em grupos de 15 pacientes, que são acompanhados por uma equipe multiprofissional. Para participar do Programa, os fumantes precisam fazer um cadastro pessoalmente ou pelo telefone 3228 5353.
Jornal O Dia