O Alzheimer é uma doença que vem avançando e cujas estatísticas “são assombrosas”. É o que afirma Glenda Maria Santos Moreira, geriatra e chefe da Unidade Clínica Médica do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-Ufpi).
“A gente tem uma perspectiva de Alzheimer [ou de qualquer outra demência] ser campeã de público daqui a uns 20 anos. Entre as pessoas que hoje têm 40 anos, metade vai ter demência, isso a nível mundial. As estatísticas são assombrosas”, afirma a médica.
Segundo Glenda Maria, o Alzheimer é uma doença prevenível em alguns aspectos, mas não é uma patologia que se pode evitar. “Se eu for ter, eu vou ter. O que a gente pode é retardar ao máximo [o seu aparecimento]”, destaca.
Dados
Segundo dados fornecidos pelo Relatório da Associação Internacional de Alzheimer (ADI), a cada 3,2 segundos, um novo caso de demência é detectado no mundo e a previsão é de que, em 2050, haverá um novo caso a cada segundo. Além disso, dados de 2017 da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que cerca de 50 milhões de pessoas vivem com demência no mundo, e isso deverá aumentar para 152 milhões em 2050.
Neste sentido, o dia 21 de setembro é lembrado como o Dia Mundial da Conscientização da Doença de Alzheimer. No HU-Ufpi, por exemplo, é realizado um evento educativo de conscientização e prevenção da doença. “Estamos levantando esse movimento do dia 21 de setembro pra poder fazer parte do que o mundo inteiro está falando, e lembrar a população leiga a respeito do que o Alzheimer é, mas mais do que tudo, lembrar que a gente precisa prevenir isso”, explica Glenda Maria.
Segundo a geriatra, estamos vivendo uma epidemia de demências e o público em geral chama de Alzheimer o que às vezes não é. Existem demências de todos os tipos, a degenerativa (que Alzheimer é campeã), mas também a vascular.
Alzheimer vai além do esquecimento da memória recente
A geriatra Glenda Maria Santos Moreira explica que o Alzheimer é uma síndrome degenerativa do sistema nervoso. Os neurônios passam por alterações e morrem. A síndrome demencial envolve a atenção e a concentração diminuídas, além do esquecimento da memória recente. Ela começa a repetir palavras e histórias, como é o caso de José de Oliveira, aposentado que vive hoje aos cuidados da filha Waldirene Sousa.
“Quando ele lembra uma coisa, fala sobre aquilo seguidamente. O médico explicou que isso é da dimensão do Alzheimer, porque a pessoa não quer esquecer aquilo que lembrou. Agora, o passado, se você perguntar pra ele como era na infância, ele vai saber te contar tudo, mas se perguntar o que aconteceu dois minutos atrás, ele não sabe. Não lembra de nada”, relata Waldirene.
Fazendo referência à música “A lenda do Peixe Francês”, da banda piauiense Validuaté, Glenda diz que “o Alzheimer tem trinta segundos de memória”. E a residente em Geriatria, Leticia Macêdo, completa dizendo que essa é uma queixa que vem da família, que começa a perceber os sinais quando o próprio doente não nota que está desenvolvendo o Alzheimer. Nesse processo inicial, o choque é grande, quando a pessoa percebe que esqueceu algo que fez.
Da perda da memória recente e das funções executivas (a forma como a pessoa se planeja e faz a gestão de suas atividades), a doença avança com a perda da linguagem até a perda de memórias de infância. Esse é o estágio final da doença. “A pessoa fica totalmente dependente. Não consegue dar nome às coisas [por exemplo]. Aquele indivíduo que perdeu a memória e já ficou mudo é uma demência sim, mas não é Alzheimer. A síndrome não tira a linguagem tão rapidamente”, explica.
No Alzheimer, todas as áreas do cérebro são afetadas, em especial o hipocampo. Existem alguns procedimentos (como exames de imagem e do liquor da coluna) que podem mostrar uma deterioração no hipocampo e se a pessoa pode vir a desenvolver a doença.
O Dia