A dor e a saudade de Waldeir Sousa já duram 10 anos, período em que perdeu o pai para o câncer de pulmão. O motorista Valdemar Sousa, chegava a fumar até duas carteiras de cigarro por dia e não mantinha uma rotina de visitas regulares ao médico. Mesmo após a descoberta da doença e no período de tratamento, se escondia da família para poder fumar. “A dor da partida ainda é grande e a falta é diária. A morte de papai me fez criar uma consciência maior quanto aos cuidados da saúde, por isso, nunca fumei e faço check up médico a cada seis meses”, declarou.
Criado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado no último dia 31 de maio, alerta a população sobre os perigos que o tabagismo oferece para o fumante e seus familiares. De acordo com o INCA, 428 pessoas morrem por dia em decorrência do cigarro no país. Os cânceres de traqueia, brônquios e pulmões, principais doenças relacionadas ao uso do cigarro, fizeram ao todo 310 vítimas fatas em 2017 no Piauí, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi).
O médico pneumatologista Dr. William Salibe Filho, revela que a partir da primeira tragada já corre-se os riscos nocivos do cigarro a sua saúde. “A nicotina e os demais compostos químicos alteram a pressão sanguínea pois afetam diretamente a elasticidade das veias e artérias. Além disso, causam dependência química. A curto e médio prazo o tabagismo causa o aparecimento de doenças periodontais que podem levar a perda dos dentes, a longo prazo, fumar causa uma série de alterações no sistema respiratório e cardiovascular, consequentemente podem levar a doenças graves , como a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e o câncer de pulmão”, disse.
O cigarro pode destruir células de diversos órgãos do corpo humano e, por isso, pode causar cerca de 50 doenças. A cada vez que traga o cigarro, o fumante ingere cerca de 4700 substâncias tóxicas, das quais três são extremamente nocivas: a nicotina, que provoca dependência, o monóxido de carbono, que reduz a oxigenação sanguínea que é levada para o corpo, e o alcatrão, que reúne vários produtos cancerígenos, como polônio, chumbo e arsênio. Essas três temidas substâncias unidas a diversas outras toxinas, quando ingeridas, resultam em diversas doenças e síndromes.
O hábito de fumar é a causa de importantes doenças respiratórias, o INCA estima que todo ano, mais de 156 mil mortes poderiam ser evitadas se as pessoas parassem de fumar. Além de representar um risco para o cidadão saudável, aqueles que apresentam doenças pulmonares crônicas como a asma, por exemplo, são duplamente suscetíveis as complicações que o cigarro causa e pela fragilidade do sistema respiratório, os impactos aparecem mais rápido do que de costume.
“Pessoas que já tem doenças no sistema respiratório são mais susceptíveis aos efeitos do cigarro, como por exemplo, os asmáticos, que sofrem mais intensamente e frequentemente com os efeitos da fumaça inalada. Por este fato, passam a ter sintomas mais frequentes e muitas vezes mais intensos porque fumam, podendo evoluir ao longo do tempo com uma asma mais grave, e o pior, com maiores riscos de complicações, como as exacerbações ou crises de sibilos, popularmente conhecido como chiado”, esclarece o Secretário-Geral da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT).
Convivência com fumantes também traz riscos de doenças
De acordo com o médico William Salibe Filho, aqueles que convivem com fumantes estão suscetíveis às mesmas doenças que o fumante em si, e, com certeza, quanto maior o contato e a exposição a fumaça maior o risco. Vale lembrar que no caso das crianças, principalmente as asmáticas, é sabido que a fumaça do cigarro faz muitas vezes estas crianças terem mais crises de sibilos, e tal fato não está associado somente a fumaça, mas ao cheiro que fica na roupa e mãos dos seus pais.
“Portanto não adianta dizer que só fuma fora de casa, pois se os filhos forem asmáticos existe um maior risco de uma asma mal controlada por este hábito. Outras doenças, como a rinite, também podem piorar devido a fumaça do cigarro, além do risco de desenvolver DPOC por somente conviver com alguém que fuma dentro de casa. A melhor forma de se proteger é evitar o contato com a fumaça do cigarro, e principalmente ajudar o fumante a procurar um tratamento para cessação do tabagismo”, explica.
A fumaça do cigarro é nociva para o pulmão, contém milhares de substâncias cancerígenas e que podem causar ou agravar doenças respiratórias. Além disto a fumaça liberada é quente, e isto também é um fator importante de agressão. Tudo isto pode levar a uma destruição dos alvéolos, que no final resultará numa DPOC, que tem dois subtipos, a bronquite crônica e o enfisema pulmonar.
“Essas duas implicações do fumo resultam na drástica diminuição da capacidade respiratória, causando, entre outros problemas, a falta de ar. Com certeza estas alterações podem ser agravadas naqueles que já tem uma doença em seus pulmões”, acrescentou o pneumatologista.
Dr. William Salibe Filho afirma que muitas das doenças respiratórias tem tratamentos excelente atualmente com as medicações inaladas, conhecidas popularmente como ”bombinhas”. Entretanto o cigarro pode piorar ou dificultar a melhora dos pacientes, seja ele tabagista ativo ou passivo. “O tabagismo é considerado uma doença, mas que tem tratamento, tanto medicamentoso quanto comportamental, sendo o melhor caminho procurar um pneumologista para ajudá-lo nesta difícil, mas fundamental atitude, que é parar de fumar. Procure seu médico”, orienta o especialista.
Tabagismo ocasiona piora de doenças respiratórias
O tabagismo traz riscos e representa a piora de doenças respiratórias como a asma. Três pessoas morrem de asma por dia no Brasil. São mais de 100 mil internações por ano, a quarta causa mais frequente de hospitalizações no SUS. Estima-se que 20 milhões de brasileiros convivam com a doença, metade deles sem saber.
Considerada uma doença crônica, de gravidade variável e alta prevalência, a asma é resultado da inflamação dos brônquios, que são as estruturas que levam o ar para o pulmão. Por causa do processo inflamatório a passagem de ar é obstruída, o que acarreta em quadros de chiado no peito, falta de ar, tosse e sensação de aperto no peito.
“É muito importante que o paciente conheça sua doença e seus sintomas, e divida esse conhecimento com as pessoas que convivem com ele. Dessa forma, todos ajudam a diminuir o seu sofrimento. O apoio, estímulo e incentivo da família é fundamental para a manutenção do tratamento, evitando riscos desnecessários e perdas na qualidade de vida¹”, explica o pneumologista Rafael Stelmach, Coordenador da Iniciativa Global Contra a Asma – GINA no Brasil.
Crises e gatilhos mais comuns
A asma é uma doença hereditária e, na maioria das vezes, de ordem alérgica, ou seja, é desencadeada por substâncias causadoras de alergia ao paciente. Os mais comuns são ácaros, mofo, pelos de animais, tabaco, pólem e poluição ambiental, mas alimentos, corantes, conservantes, medicamentos e variações bruscas de temperatura também podem desencadear o problema.
Mesmo em tratamento e com controle da doença, o paciente não está livre de ter uma crise. “Crise é a situação onde os sintomas se tornam mais fortes e agudos. Muita falta de ar e chiado, além de fortes apertos no peito caracterizam essa fase. É importante saber a gravidade da crise e entender quando se está em risco. Se os sintomas persistem por longo período e não regridem com uso de medicação, é hora de procurar atendimento médico”, esclarece o Dr. Stelmach.
Embora não exista cura para a asma, existem tratamentos – tanto para controle da doença, quanto para resgate de crises – que trazem qualidade de vida e permitem ao paciente manter uma rotina normal, incluindo até mesmo a prática de atividades físicas.
As medicações controladoras diminuem o risco de crises de asma e seu uso correto reduz muito ou até elimina a necessidade da medicação de alívio futuramente. “Por ser uma doença inflamatória e crônica, a chave para o controle das crises de asma está em diminuir a inflamação. Assim, é possível ter uma vida normal e melhor ”, completa o pneumologista.
Meio Norte