A Black Friday, que neste ano acontece em 25 de novembro, surge como uma fonte de esperança para as grandes varejistas em meio a uma crise que assola o setor. A trégua é aguardada devido ao interesse dos consumidores em aproveitar a data para conquistar descontos e até antecipar a compra de presentes para o fim de ano.

Dados da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), revelados mensalmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o setor, após disparar quase 4% em janeiro, passou a “andar de lado” e apresenta alta de 1,8% no acumulado do ano até setembro.

A situação crítica enfrentada pelo setor resultou na recuperação judicial das Lojas Americanas e no decreto de falência da Livraria Cultura. Também afetadas, as Lojas Marisa e a rede de departamento Tok&Stok tiveram pedidos de falência solicitados por credores. Para outros gigantes, a alternativa foi o fechamento de lojas, na tentativa de driblar a crise. 

“Para as empresas com problemas, a Black Friday é uma oportunidade maravilhosa para vender os produtos, limpar os estoques e colocar dinheiro no caixa para comprar itens melhores e mais atuais que vão oferecer maior rentabilidade”, afirma Roberto Kanter, professor do MBA de gestão comercial da FGV (Faculdade Getulio Vargas).

Wilson Victorio Rodrigues, diretor da Faculdade do Comércio de São Paulo, recorda que a Black Friday já chegou a ser a segunda melhor data para o varejo e pode ser uma boa chance para as varejistas que estão com a saúde financeira comprometida.

“A Black Friday é uma oportunidade importante para que essas empresas possam vender. Existem, inclusive, algumas estratégias, como o esquenta para a Black Friday, para que os consumidores já entrem no clima para a data”, afirma Victorio.

Inovações e descontos reais
Os analistas também orientam que as empresas desenvolvam inovações estratégicas para aproveitar melhor a Black Friday e ampliar o volume de vendas durante a data. O vendedor Ciro Bottini, veterano das televendas no Brasil, diz que as empresas, principalmente aquelas com problemas financeiros, devem apostar na criatividade.

“Todos esperam pelo preço mais baixo, mas os clientes estão carentes por algo que seja único. Isso eu vejo muito pouco, o que representa pouca geração de valor para a marca e para o produto. É preciso colocar o marketing para pensar e até usar o humor, o que é sempre muito bom”, destaca Bottini.

“É fundamental que as varejistas adotem estratégias inteligentes, com investimento em marketing digital, sites funcionais e uma operação logística para entrega rápida dos produtos”, complementa Victorio.

Roberto Kanter defende ainda que os varejistas adotem uma visão distinta daquela observada nos últimos anos e ofereçam descontos reais aos consumidores. “O ideal é selecionar menos produtos a oferecer vantagens únicas, com descontos de 30%, 40%, 50%. Se isso acontecer, vai haver um resgate da Black Friday”, aconselha.

“O resultado ruim da Black Friday no ano passado foi consequência do péssimo hábito do varejista brasileiro de dobrar [o preço dos produtos] para dar 50% de desconto. Aparentemente, todos seguem fazendo isso, e o consumidor não é otário”, reforça o professor da FGV.

FONTE:R7