Líderes de 11 países da América do Sul aceitaram o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar de uma reunião de cúpula regional nesta terça-feira (30), em Brasília.
Esta será a primeira cúpula organizada pelo Brasil no terceiro mandato de Lula, e o governo tem três objetivos, segundo o Itamaraty:
- Reiniciar o diálogo regional, interrompido há vários anos;
- Buscar uma agenda concreta de cooperação em áreas como infraestrutura, saúde e combate ao crime organizado;
- Criar, num prazo mais longo, um novo organismo de integração sul-americano que possa substituir ou reorganizar a União das Nações Sul-Americanas (Unasul).
As metas parecem factíveis, razoáveis e até desejáveis. Mas, na prática, mediar as enormes divergências ideológicas e políticas entre os líderes da América do Sul será o primeiro grande teste real da política externa do presidente Lula.
Reconstrução de pontes
Até aqui, a diplomacia brasileira conseguiu resultados positivos no seu objetivo inicial de “reconstruir pontes” com os principais parceiros do mundo.
Mas essa primeira etapa era a mais fácil de todas. Afinal, o país ficou praticamente isolado durante os quatro anos de mandato do presidente Jair Bolsonaro, que sempre tentou negar esse isolamento.
Em contraste, Lula se reuniu com mais de 30 chefes de estado e governo e visitou nove países em três continentes em menos de cinco meses no cargo.
Com exceção, claro, das polêmicas envolvendo a guerra na Ucrânia, que renderam ao Brasil duras críticas dos Estados Unidos e da União Europeia, o presidente colheu frutos positivos dos encontros.
Mas a maioria deles ainda está no campo das intenções, como acordos para futuros investimentos e possibilidade de aumento de comércio, por exemplo.
Liderança na América do Sul
Na América do Sul, no entanto, a tarefa é muito mais complicada. O ônus de liderar e reorganizar a região é principalmente do Brasil – e sem essa liderança regional, fica muito mais difícil conseguir o protagonismo diplomático global aspirado por Lula.
Esse é um dos motivos que levaram o governo a organizar a cúpula sul-americana, a primeira em muitos anos. Mas as divisões políticas entre os diferentes países não ajuda.A falta de diálogo entre os líderes é tão grande que o Itamaraty decidiu que não iria sequer propor pautas específicas para a reunião
.O Ministério das Relações Exteriores chegou a se referir ao encontro como uma espécie de “retiro” entre os presidentes, uma oportunidade para que eles discutam de maneira livre e franca os pontos de vista relacionados aos três objetivos brasileiros.O Itamaraty tem a exata noção do desafio.
Tanto que a embaixadora Gisela Padovan, Secretária de América Latina e Caribe, disse que o ministério vê a cúpula “não como um ponto de chegada, mas sim como um ponto de partida, de retomar o diálogo interrompido”.
Ela também tomou o cuidado de dizer que nem o governo brasileiro e muito menos o Itamaraty tinham a intenção de pré-julgar as decisões dos presidentes convidados.
“Nós temos consciência de que há diferenças de visão entre vários países, e diferenças de orientação ideológica também. Então, por isso mesmo, consideramos que já é um começo os países se sentarem à mesa”, disse ela.
Qualquer avanço nas discussões será vendido com uma vitória diplomática, especialmente se houver uma indicação de que a Unasul poderia ser reorganizada com a presença de todos os 12 países sul-americanos. Atualmente, apenas sete países fazem parte formal da organização, que não tem mais nem sede.
O mais provável é que muitas outras reuniões sejam necessárias para progressos realmente significativos na reorganização do grupo.