Com histórico de reprovação no mestrado e poucos amigos, o acusado de estuprar e matar de Janaína da Silva Bezerra, 22 anos, era visto antes do bárbaro assassinato como um estudante acima de qualquer suspeita. .
Há vários dias debruçado no processo do estupro e assassinato de Janaína Bezerra, o promotor Benigno Filho, da 13ª Promotoria, diz que Thiago Mayson da Silva Barbosa, 28 anos, tem “traços de psicopata”. Em entrevista à TV Cidade Verde, o representante do Ministério Público do Piauí chegou a se emocionar com o feminicídio e pediu pena máxima ao mestrando que, inclusive, já foi denunciado à Justiça. Psiquiatras e criminologistas descrevem um psicopata como uma pessoa sem empatia, manipulador, volátil e muitas vezes criminoso.
Foto: Renato Andrade/ Cidadeverde.com
“A psicologia forense nos dá um traço desse homem como um psicopata. Ele pode ter aquelas fantasias sexuais pelo ato que praticou. Não é normal o ser humano fazer isso. Ele sabia o que estava fazendo, disse que não pensou na hora, mas todas as práticas apontam noutro sentido: estuprou duas vezes a vítima, cometeu vilipêndio ao cadáver que é manter relações após de morta, teve a fraude processual e o feminicídio”, disse o promotor.
O crime chocou o País e ocorreu em janeiro deste ano durante uma calourada na Universidade Federal do Piauí (Ufpi) e chamou a atenção pela crueldade do caso.
O mestrando em matemática foi denunciado por homicídio duplamente qualificado, estupro, fraude processual e vilipêndio a cadáver. O inquérito do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) revelou que ele estuprou a vítima por vezes, inclusive quando ela já estava morta. Além disso, a investigação policial obteve provas de que ele também teria filmado parte da ação.
O Cidadeverde.com apurou que Thiago Mayson trabalhava com delivery aos finais de semana após ter a bolsa de R$ 1.500 interrompida por não concluir o mestrado dentro do prazo determinado de 24 meses. Um estudante da Ufpi que conhece o mestrando desde 2017 disse que é difícil assimilar o crime, principalmente, pela crueldade.
Foto: Renato Andrade/ Cidadeverde.com
“Era um amigo e tinha uma vida de estudante normal. Sempre o achei muito resiliente. Aparentemente, não tinha o perfil muito diferente dos demais alunos. Era de família humilde e era daquela galera mais fechada em relação à família, só dizia que não o ajudavam. Falava da dificuldade financeira, pois estava sem bolsa no programa de pós, pois não concluiu dentro do prazo. Saber que ele fez isso foi um choque, ninguém esperava nada do tipo, pois não mostrava comportamento agressivo. Ficamos surpreso pela forma como aconteceu e as coisas que aconteceram”, disse o amigo que prefere não se identificar.
Para o estudante, o amigo aparentava ser uma pessoa “sem compromisso”.
“Acho que algum momento ele botou na cabeça que ia fazer o mestrado e foi. Mas nunca foi um cara que estudou muito, mas era inteligente e pegava as coisas com facilidade. Se você ignora o acontecido, ele era tido como um estudante normal que vinha pra Ufpi e ia embora. O corpo docente e os alunos ficaram abalados. Ninguém esperava. Até o sentimento da gente em relação a ele é difícil por conta do crime, a questão da menina e o que ela sofreu. A gente se coloca no lugar da família e fica pensando na barbaridade. Ainda estamos tentando abstrair, mas já aceitei que conheci uma pessoa que hoje é criminosa, que fez as escolhas erradas e está pagando o preço disso”, disse o amigo.
Histórico de reprovação no mestrado
Já o perfil acadêmico do mestrando em matemática revela um estudante com histórico de reprovação. Thiago Mayson tentava pela terceira vez concluir a pós-graduação. Ao todo, o mestrado são dois anos, entre disciplinas básicas e exames de qualificação.
“Ele passou no mestrado e em agosto de 2018 fez um período. No semestre seguinte, por volta de março de 2019, fui professor dele da disciplina de Análise no RN, que é uma disciplina básica, e ele não conseguiu aprovação nessa disciplina. Em termos de regimento, temos o geral e o interno que incluem algumas regras que precisam ser cumpridas. Por exemplo, não pode ter duas reprovações em disciplinas e ele reprovou em duas disciplinas”, disse o professor Halyson Irene Baltazar, que seria seu orientador.
Foto: Graciane Araújo/ Cidadeverde.com
O docente avalia Thiago Mayson como um aluno inteligente e também o via como um estudante sem compromisso. Ele era assíduo em sala de aula e tinha boa relação com os colegas de classe. O Cidadeverde.com buscou casos de assédio e importunação sexual contra o mestrando, como foi noticiado, mas não localizou nenhuma vítima.
“Não via ele como um bom aluno, para ser um bom aluno ainda tinha uma discrepância. Faltava comprometimento, a questão do querer. Percebia um certo desleixo, falta de atenção. Era aquele que se dedicasse, ele conseguia, mas parecia que não queria. Faltava compromisso”, avalia Baltazar.
Foto: Renato Andrade/ Cidadeverde.com