Um novo estudo brasileiro concluiu que em 2020, primeiro ano da pandemia, houve um aumento de 40% no número de mortes maternas no país comparado a anos anteriores. No total, 549 mortes maternas foram provocadas pelo Sars-CoV-2, vírus que causa a Covid-19.
Mas esse incremento observado durante a crise sanitária não foi somente advindo diretamente da doença. Já era esperado que a Covid causasse um excesso de mortes, termo utilizado para se referir ao número que supera o que é visto normalmente. No entanto, uma parcela de 14% das morte maternas extrapola o que se estimava para a situação atípica da emergência de saúde.
O ponto é um indicativo de que a pandemia causou um impacto indireto no sistema de saúde e, consequentemente, entre gestantes e puérperas, como na dificuldade de atendimento ao pré-natal.
Para uma morte ser considerada materna, o óbito precisa ocorrer durante a gravidez, no parto ou em até 42 dias após o parto. Outro ponto é que a causa da morte precisa ter alguma relação ou ter sido agravada pela gestação.
O novo estudo é mais um que demonstra como o Brasil passa por um crescimento nos números de mortes maternas. O cenário dificulta a meta de reduzir o índice desse tipo de óbito até 2030, considerando os objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas).
Publicada na revista BMJ Pregnancy and Childbirth, a pesquisa foi feita pelo Observatório Covid-19 da Fiocruz. Dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade) foram utilizados para estimar o número esperado de mortes maternas em 2020, enquanto informações do Sivep-Gripe (Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe) serviram de base para calcular a quantidade de mortes relacionadas de maneira direta com a Covid.
De início, os pesquisadores mensuraram a quantidade de mortes maternas ocasionadas pela Covid-19, número que foi comparado com os registros de anos anteriores. Também foi possível calcular o excesso geral do total de mortalidade no caso de mortes maternas em 2020.
Ao observar o número de mortes maternas durante o ano de 2020, a maior parte delas ocorreu entre abril e agosto e, depois, entre outubro e dezembro.
Os autores explicam que o pico da Covid-19 no Brasil durante o primeiro ano da pandemia foi em junho. Para efeito de comparação, nesse mês, houve um aumento de 56% das mortes maternas comparado ao que se esperava ao observar os dados dos anos anteriores.
O estudo também averiguou o perfil de mortes maternas considerando algumas variáveis sociais. Concluiu-se, por exemplo, que o risco de registrar uma morte materna era maior entre mulheres negras, naquelas que viviam em zonas rurais ou que precisavam se deslocar para outra cidade a fim de ter assistência médica.
Essa observação condiz com o fato de que mortes maternas têm uma forte relação com desigualdades sociais. Os autores citam que, na literatura, já é sólida a percepção de que o incremento das mortes entre gestantes e puérperas está associado com o aumento de pobreza e fome, por exemplo.
Os autores, então, chamam atenção para o fato de que a alta taxa de excesso de mortes maternas no primeiro ano da pandemia é um sinal da falha em ter um sistema de saúde apto a suprir as necessidades de saúde de gestantes e puérperas. A melhoria do cenário, no entanto, não depende só do Brasil.
“Uma solução requer o envolvimento da comunidade internacional já que isso afeta o desenvolvimento global”, escrevem os autores no artigo.
Fonte: Folhapress