Por trás de muitos sorrisos, estão pessoas tomadas pelo estresse, pela depressão ou ansiedade. Muitas, dependentes de ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos e psicoestimulantes para manter o equilíbrio emocional.
No entanto, o uso indiscriminado desses medicamentos tem preocupado os dentistas. Marcelo Kyrillos, cirurgião dentista, destaca que uso pode estar diretamente ligado ao aumento dos casos de bruxismo, transtorno que segundo a OMS afeta 30% da população mundial [no Brasil, pode chegar a 40%.] e é caracterizado pelo apertamento involuntário dos dentes durante o período do sono mais profundo (chamado REM).
Kyrillos explica que, além de danos como erosão dentária e mudanças irreversíveis na função mastigatória e na articulação temporomandibular (ATM), o bruxismo é um dos responsáveis por causar dores crônicas em toda a musculatura da face e da região cervical.
“Destaco aqui os psicoestimulantes, que têm sido usados muitas vezes sem prescrição médica, principalmente por executivos que fazem uso para aumentar o foco e a produtividade. O Venvanse, por exemplo, é um medicamento que estimula o sistema nervoso central, indicado para o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH). No entanto, é usado ‘off label’ – com e sem receita médica – no ambiente corporativo, principalmente por quem trabalha no mercado financeiro”, frisa.
O que fazer
Segundo o especialista, a primeira decisão a ser tomada é evitar esse uso recreativo. Feito isso, caso a pessoa precise do medicamento, o recomendado é visitar o dentista e buscar uma alternativa como o uso de placas oclusais para evitar o ranger de dentes e minimizar o bruxismo.
Outro tratamento disponível, a depender do caso, é a liberação neurofacial no consultório odontológico. Tal liberação permite ao cérebro criar novas ligações que tirem a sobrecarga da musculatura da face e do pescoço, além de reprogramar a respiração nasal.
Esse foi o caso do executivo Raphael Soares (42), que tomou Venvanse durante alguns meses com objetivo de aumentar a concentração e a produtividade. “Comecei a ter aquela dor tensionada na cabeça e na cervical, boca seca, enxaqueca, e até dificuldade para abrir o maxilar, que chegava a estalar. Parei o medicamento e, após um ano de ter deixado o estimulante, iniciei o tratamento”, conta.
Kyrillos salienta que o processo é feito com o dentista por ser diretamente atrelado a um sistema chamado estomatognático, que está relacionado aos músculos da mastigação, às articulações temporomandibulares (ATMs), e a um dos principais nervos responsáveis pela sensação da face e pela função motora dos músculos da mastigação (o nervo ‘trigêmeo’), fundamental para a fala, a mastigação e a deglutição.
“Nada haverá efetividade se o paciente continuar tomando esses estimulantes de forma indiscriminada, sem orientação médica. Caso precise tomar, de fato, são necessários cuidados para que os medicamentos não tenham efeitos colaterais danosos e irreversíveis”, completa.
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