O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou em entrevista nesta sexta-feira (22) que, ao participar da transição entre os governos Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, no fim de 2022, era possível perceber que “muita gente não desejava largar o poder”.
Múcio foi questionado sobre a declaração, dada na véspera, de que o ex-comandante da Marinha Almir Garnier tinha intenções golpistas e não estaria “do lado da lei”.
“Ele [Garnier] não me recebeu. Eu percebia. Os outros comandantes me receberam. A gente via, os jornais falavam. A gente percebia que muita gente não desejava largar o poder”, disse Múcio ao deixar o prédio do Ministério da Defesa, em Brasília, no fim da manhã.
Garnier foi citado na delação premiada do ex-ajudante de Bolsonaro Mauro Barbosa Cid como alguém que teria se empolgado com planos de ruptura democrática.
Segundo o relato de Cid, Bolsonaro se reuniu com integrantes da Marinha e do Exército após o segundo turno. Nesses encontros, Bolsonaro falou sobre uma “minuta de golpe”, detalhada, que previa ilegalidades como afastamento de autoridades.
CPI é ‘soberana’ para convocar Garnier, diz ministro
A relatora da CPI dos Atos Golpistas, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), tem defendido a convocação do Almirante Garnier.
O presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), tem dito que decidirá até a próxima terça-feira se incluirá ou não na pauta o requerimento. Isso porque, na terça, uma parte da sessão será destinada à votação de requerimentos.
Questionado sobre o tema, José Múcio disse que a CPI é soberana para votar a convocação e que a eventual aprovação não causa constrangimento ao Ministério da Defesa.
“Eles são soberanos, o presidente e a relatora, a CPI e o Congresso. Pode convocar quem quiser. Eu acho que, se for para esclarecer, eles têm toda autoridade e têm poder para fazer isso”, declarou o ministro.
Declaração na véspera
Na quinta, um jornalista perguntou ao ministro da Defesa se ele sabia de possível “inclinação golpista” do almirante Garnier. José Múcio Monteiro, então, respondeu:
“É uma coisa pessoal. Sabia, mas ele passou. Olha, ele não me recebeu para conversar, depois, nós nos encontramos, eu conversei. Mas era uma posição pessoal, havia um presidente eleito, havia um presidente empossado, a justiça promulgou, de maneira que nós estávamos 100% do lado da lei, e ele não”.
Em outro momento da entrevista, o ministro da Defesa afirmou que a pasta que chefia tem combatido “inimigos”, inclusive aqueles que “trabalham contra a democracia”.