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A jornalista Glória Maria teve sua morte confirmada três anos após o diagnóstico de um câncer no pulmão que evoluiu para metástases cerebrais.

Os tumores sólidos, como câncer de pulmão e de mama, estão associados com uma alta incidência de metástases no cérebro nos estágios mais avançados da doença.

Segundo o oncologista do Centro de Referência de Tumores de Pulmão e Tórax do Hospital A.C. Camargo, Helano Freitas, é importante ter em mente que pacientes diagnosticados com um desses tipos de câncer podem -e devem- ser examinados para metástases cerebrais em todas as fases da doença.

“Todo mundo que foi diagnosticado com alguns tipos de câncer, e câncer de pulmão é um deles, precisa investigar metástase cerebral. E o quanto antes for feito esse diagnóstico melhor em termos de tratamento”, explica.

O câncer de pulmão, de acordo com Freitas, é dividido em três tipos principais: os tumores de pequenas células, que são mais agressivos e correspondem por cerca de 13% dos casos de câncer de pulmão; os tumores não pequenas células (non-small cell lung cancer, em inglês), menos agressivos; e, dentro deles, o mais comum é do tipo adenocarcinoma, que pode ter uma incidência de até 40% no desenvolvimento de metástases cerebrais. O outro tipo de câncer de pulmão não pequenas células é o carcinoma de células escamosas.

O QUE SÃO AS METÁSTASES CEREBRAIS

Metástases são focos de células tumorais que podem se espalhar pelo corpo, a partir do ponto de origem (no caso, do tumor inicial) e continuam a replicação, provocando novos focos da doença em outros órgãos. As metástases em pacientes com câncer de pulmão ocorrem com mais frequência no cérebro, no fígado, nas glândulas adrenais (antigamente chamadas suprarrenais) ou nos ossos.

De acordo com o oncologista clínico do INCA (Instituto Nacional do Câncer), Luiz Henrique Araújo, o câncer de pulmão é um dos que têm maior incidência de metástases cerebrais, podendo atingir até metade dos pacientes, e cerca de 10% dos novos casos que são diagnosticados já apresentam o estágio metastático no cérebro.

As causas, segundo o médico, são da biologia e do tipo do tumor, e não tem ligação a fatores de risco, como idade, sexo e comorbidades. Quanto mais tempo desde o aparecimento do câncer, porém, maior o risco de focos metastáticos, explica.
“Quando descobrimos um câncer de pulmão em estágio muito inicial, com tumores ainda muito localizados nos pulmões, a chance de cura é de até 90%, mas à medida que ele se torna mais avançado e metastático, o próprio tratamento torna-se mais complexo”, avalia.

De acordo com estimativas do INCA, para o triênio 2023 a 2025 são esperados 32.560 novos casos de câncer de pulmão, sendo 18.020 em homens e 14.540 em mulheres. O câncer de pulmão é o primeiro em mortes por câncer tanto em homens quanto em mulheres (nas mulheres, empata com o de mama), com uma taxa de mortalidade de cerca de 11,7%. As incidências de metástases cerebrais, porém, não são descritas pois variam de acordo com o subtipo do câncer de pulmão, afirma Araújo.

TRATAMENTO

Existem ainda diferenças moleculares devido à mutação sofrida em determinados genes que levam a subtipos de adenocarcinoma.

“Conhecendo o subtipo, é possível fazer um tratamento mais direcionado, especializado, com terapias-alvo. Mas, invariavelmente, pacientes com câncer de pulmão com metástase cerebral devem passar por tratamento radioterápico”, ressalta Freitas, do A.C. Camargo.

Tradicionalmente, as metástases cerebrais são tratadas com radioterapia de crânio total, mas essa técnica, por aplicar o tratamento radioterápico em todo o cérebro, precisa utilizar doses muito mais baixas para não causar danos ao tecido cerebral.
Nos últimos 15 anos, porém, tem progredido um tipo de radioterapia de alta precisão chamada radioterapia estereotática (ou estereotáxica) fracionada craniana. Esse procedimento utiliza uma alta dose de radioterapia localizada, podendo tratar o foco de metástase sem danos ao restante do cérebro.

“Porém, quando o avanço das metástases é tão grande que existem 10, 15, 20 nódulos, aí não é possível fazer o tratamento estereotático e é necessário aplicar a radioterapia total”, explica o médico.

Uma outra alternativa é o tratamento com cirurgia, quando se tem um conhecimento detalhado das células tumorais, mas mesmo a cirurgia não é garantia de cura, pois é comum ocorrerem casos de recidiva.

“O que se adotou como protocolo é fazer a cirurgia e depois a radioterapia estereotática ou, então, iniciar o tratamento com imunoterapia [conjunto de medicamentos voltados para a defesa do sistema imune contra as células tumorais] e, depois, partir para a radioterapia. Mas sempre um e outro”, diz.

TERAPIAS-ALVO

Mais recentemente, nos últimos dez anos, tem crescido também a descoberta de tratamentos de terapias-alvo para alguns subtipos de adenocarcinoma, o que aumenta a sobrevida dos pacientes, diz Araújo.

“Hoje temos uma porcentagem cada vez maior de pacientes vivos cinco anos após o diagnóstico, graças às terapias-alvo. Esse é um tempo de sobrevida diferente do paciente curado, a gente sabe que a doença está dormente, mas está em remissão graças ao tratamento. E a terapia-alvo e a imunoterapia têm um tempo de duração [do benefício] muito maior do que a quimioterapia”, explica.

Os médicos reforçam que o diagnóstico precoce é ainda a principal chave para diminuir a incidência de metástases e conseguir sucesso no tratamento para controle dos nódulos e aumento da sobrevida.

“Infelizmente, há uma desigualdade muito grande de acesso. E, para fazer o diagnóstico e acompanhamento das metástases cerebrais, é preciso equipamentos como ressonância magnética e tomografia computadorizada. Se conseguirmos ampliar o acesso com certeza vamos diminuir o número de casos diagnosticados em estágio avançado”, finaliza.

 

Fonte: Folhapress