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Quando a Ômicron foi identificada, em novembro de 2021, alguns cientistas acreditavam que ela poderia ser a última variante de preocupação do coronavírus e levar o mundo ao fim da pandemia de Covid-19. Um ano depois, o que se viu, de fato, foi uma cepa altamente transmissível, com grande poder de mutação e capaz de escapar da imunidade conferida por vacinas e infecções anteriores.

Apenas quatro semanas após ser sequenciada pela primeira vez por cientistas da África do Sul e anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma nova variante de preocupação, a Ômicron se tornou dominante na maior parte do mundo, substituindo a Delta, sua antecessora.

“A Ômicron provou ser significativamente mais transmissível do que Delta, e continua a causar mortalidade considerável devido à intensidade da transmissão”, avaliou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva de imprensa na sexta-feira (2/12).

As mutações encontradas na superfície do patógeno – cerca de 50 – o tornaram tão diferente do original, descoberto em dezembro de 2020 na cidade de Wuhan, que pesquisadores discutem a possibilidade de classificá-lo como um novo vírus, o Sars-CoV-3.

“É um vírus diferente do encontrado em Wuhan e das variantes Alfa, Beta, Gama e Delta. Após a identificação da Ômicron, começou uma segunda pandemia e as outras variantes praticamente sumiram. A forma como isso aconteceu foi avassaladora”, afirma o professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP, Esper Kallás, em entrevista ao Metrópoles.

Subvariantes da Ômicron

Desde o surgimento da Ômicron BA.1 (original), o vírus continua a evoluir. Atualmente, existem mais de 500 sublinhagens em circulação. Dessas, destacaram-se a BA.2, BA.4 e BA.5. Recentemente, foram identificadas também a BQ.1 e BE.9 – uma evolução da sublinhagem BA.5.3.1, que descende da BA.5.

Todas têm características importantes em comum: são altamente transmissíveis, replicam-se no trato respiratório superior e têm mutações que contribuem com o escape da resposta imunológica de pessoas vacinadas ou com infecções prévias.

O professor do Instituto de Biologia da UnB Bergmann Ribeiro, especialista em mutações de vírus, explica que os patógenos sofrem uma pressão de seleção no mundo. Aqueles que conseguem sobreviver ou se replicar em pessoas vacinadas têm vantagem sobre os que não conseguem.

“Isso é algo natural. O vírus muda ao longo do tempo, adaptando-se ao ambiente. Com a Ômicron foi assim. Novas modificações na proteína spike fizeram com que esse vírus não fosse reconhecido pelos anticorpos produzidos ou pela vacinação ou infecção de variantes antigas”, afirma Ribeiro.

Doença mais leve

Embora a Ômicron tenha levado a uma explosão de novos diagnósticos de Covid-19 no país em janeiro de 2022 – foram três vezes mais casos do que os registrados pela variante Gama –, no geral, a cepa causou uma doença menos grave. Foram registradas quatro vezes menos mortes.

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, explica que o vírus se reproduz com maior eficiência nas vias aéreas superiores, causando doença mais leve em comparação às versões anteriores. Além disso, o vírus encontrou uma população com algum nível de imunidade devido ao avanço da vacinação e de infecções prévias.

Novas variantes podem surgir?

O professor especialista em mutações de vírus acredita que a Ômicron continuará a evoluir, gerando novas sublinhagens. “Ele é o vírus que está dominando. É a partir dele que vão surgir novas subvariantes. Pode existir em algum lugar do mundo uma população que tenha um ou outro vírus que seja diferente da Ômicron, mas como ela tem essa vantagem de se espalhar mais rápido, ela domina”, pontua Ribeiro.

Especialistas da OMS explicam que caso o vírus mude significativamente – como se uma nova variante causasse uma doença mais grave ou se as vacinas não evitassem doenças graves e mortes – o mundo precisaria reconsiderar sua resposta. “Nesse caso, teríamos uma nova variante de preocupação e, com ela, novas recomendações e estratégias da OMS”, afirmou a entidade em um comunicado.

Ainda assim, a organização acredita que, com o aumento dos índices de vacinação, o mundo está “muito mais perto” de poder dizer que a fase de emergência chegou ao fim.

“Estamos muito mais perto de poder dizer que a fase de emergência da pandemia acabou, mas ainda não chegamos lá”, afirma Ghebreyesus.

 

Fonte: Metrópoles