Em ato de campanha no Rio nesta quarta-feira, 12, o candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou um boné com as letras CPX — abreviação de Complexo do Alemão, conjunto de favelas da Zona Norte. Nas redes sociais, viralizaram postagens enganosas que associam a sigla ao tráfico de drogas. O boné foi um presente dado ao ex-presidente pela ativista Camila Santos em visita à sede do jornal comunitário Voz das Comunidades.

Lula participou de um encontro com lideranças comunitárias e de uma caminhada pelo Complexo do Alemão. O ato foi organizado pelo ativista e jornalista Rene Silva, fundador do Voz das Comunidades, com apoio de lideranças e instituições locais. “Essa sigla não tem conexão nenhuma com facções criminosas ou significados relacionados ao crime. ‘CPX’ é uma abreviatura da palavra Complexo”, disse ele. “De forma geral, as favelas do Rio de Janeiro possuem essa cultura de abreviar os nomes dos territórios. Na Penha, por exemplo, a abreviatura é ‘PH’, na Cidade de Deus é ‘CDD’ e no Pavão-Pavãozinho-Cantagalo é ‘PPG’ e por aí vai”, explicou.

O ex-presidente Lula (PT) em caminhada no Complexo do Alemão nesta quarta-feira, 12. Foto: Andre Coelho/EFE

No Twitter, Rene argumentou que a abreviação CPX foi utilizada também pela Polícia Militar do Rio. De fato, em diferentes postagens a corporação usou o termo para se referir aos Complexos da Penha, do Chapadão da Pedreira. A assessoria da PMERJ informou que utilizou o termo como forma de abreviação da palavra “Complexo” até o ano de 2017, quando só eram permitidas postagens com até 140 caracteres no Twitter.

A ativista Camila Santos, fundadora do Movimento por Moradia no Complexo do Alemão, opinou que as publicações enganosas sobre o termo CPX demonstram uma visão preconceituosa dos moradores de favela. “Eles estão acostumados a nos olhar sempre pela mira de um fuzil. Infelizmente, para eles, só prestamos quando estamos os servindo”, disse.

Em nota publicada no site oficial de Lula, a campanha do petista negou relação da abreviação CPX com o crime organizado e afirmou que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) tratam todos que moram em comunidades como bandidos.

Ato de campanha teve esquema de segurança policial

Nas redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) compartilharam postagens que afirmam que CPX significa “cupinxa (parceiro) do crime”. A palavra — que significa parceiro, comparsa — é escrita com “ch”. Os dois parlamentares afirmaram ainda que Lula teria visitado o quartel-general do Comando Vermelho no Complexo. Na realidade, o candidato visitou a Casa Voz, sede do Voz das Comunidades.

Em outra postagem, Flávio questiona de que maneira o ex-presidente entrou no Complexo já que, de acordo com a publicação, “nem a força policial de elite consegue”.  De acordo com o Voz das Comunidades, o ato de campanha teve esquema de segurança com agentes da Polícia Militar, Guarda Municipal e Polícia Federal. A Guarda Municipal informou que atuou no ordenamento do trânsito, com 19 guardas.

Outros políticos fizeram caminhadas no complexo de favelas em 2022, como o recém reeleito governador Cláudio Castro (PL),  no dia 22 de setembro. Castro estava acompanhado do vice-governador Thiago Pampolha (União Brasil) e do senador reeleito Romário (PL).

 

Homem em foto com Lula é ator e ex-traficante

O ator Diego Raymond também foi alvo de desinformação nas redes sociais. Ele posou com Lula no ato do Complexo do Alemão e a foto foi compartilhada fora de contexto, com legendas que o chamam de “traficante e assassino”. Postagens utilizaram imagens de Diego caracterizado como um personagem da série A Divisão.

Diego era conhecido no tráfico como “Mister M” e se entregou à polícia em 2010, depois de ser convencido pela mãeEle cumpriu pena de 9 meses de prisão. Nas redes sociais, ele afirmou que foi absolvido de todas as acusações. Procurado pelo Estadão Verifica, não quis se pronunciar.

Fonte: Estadão