A chikungunya é uma arbovirose causada pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que causa a dengue. Ao contrário da virose mais famosa, que dá nome ao “mosquito da dengue”, a chikungunya costuma ser menos letal. Mas é possível que o vírus provoque graves inflamações no sistema nervoso central, podendo levar à morte.

O Piauí identificou, clinicamente, a primeira morte por chikungunya no Estado em 2022. James Kauê Sousa e Silva, de 14 anos, de Jaicós, morreu sob suspeita da doença no Hospital Regional Justino Luz, em Picos, no dia 3 de junho, e teve confirmação clínica para chikungunya no dia 13.

Casos graves

A infectologista Elna Amaral explica como a doença pode evoluir para casos graves. “O vírus da chikungunya, especificamente, vai provocar uma inflamação generalizada no organismo. Daí os sintomas de febre, dor de cabeça e mal estar. Além disso, existe uma facilidade de processo inflamatório nas articulações. São dores nas juntas de forma mais localizada. Mas que também podem inflamar o sistema nervoso”, explica.

A médica revela que a prevalência do vírus da chikungunya tem feito aparecer casos graves da doença, que costumam ser mais raros.

“É possível que algumas pessoas cheguem a um quadro de encefalite por chikungunya. Eventualmente, pode haver uma infecção no sistema nervoso central, que é uma espécie de meningite viral. A pessoa entra em um quadro de coma e pode ser fatal. Mas no geral a doença costuma ser mais debilitante e não matar”, acrescenta Elna Amaral.

Segundo médica podem restar sequelas físicas - Lucrécio ArraesSegundo médica podem restar sequelas físicas – Lucrécio Arraes

Sequelas

De acordo com a médica, os pacientes podem ficar curados em casos de encefalite, mas é comum que restam sequelas físicas. O paciente pode deixar de caminhar, ficar com sequela auditiva, visual, na fala e ter alterações neurológicas. O paciente 100% recuperado após um caso grave também é uma possibilidade.

Síndrome de Guillain-Barré e sequelas físicas

Outra complicação que o chikungunya pode provocar é a Síndrome de Guillain–Barré, que altera o sistema nervoso central de forma determinante. “A pessoa vai perdendo a força dos membros, geralmente começa nas pernas até os braços. A maior preocupação nessa situação é perder a força da respiração, que pode levar à maior gravidade”, explica a infectologista Elna Amaral.

A principal sequela é a alteração articular. Isso limita a funcionalidade da articulação, impedindo, inclusive, a mobilidade. A pessoa pode ficar sem conseguir caminhar por um bom tempo, caminhar mancando e não consegue fazer atividade física porque a articulação está sempre inflamada. “Dependendo da idade, a pessoa pode ficar um bom tempo acamada. Nesse caso, entra uma medicação mais potente por um longo período para recuperar a articulação”, aponta Elna.

Recuperação

O período de recuperação é indeterminado, mas a juventude costuma se sair melhor nesse processo. “Nos mais jovens tende a durar menos tempo. Em crianças é muito rápido, em um mês elas já brincam normalmente. No adulto e idoso é mais lenta a recuperação”, define a infectologista.

Diferença entre dengue e chikungunya

A dengue e a chikungunya são duas doenças distintas, provocados por vírus com manifestações clínicas distintas, mas que têm no mosquito o vetor de transmissão. Enquanto na dengue a dor nas juntas é mais uniforme, na chikungunya essa inflamação permanece durante um período prolongado, com edema, inchaço, dificuldade de escrever e mexer os pés.

Os sintomas iniciais da chikungunya são febre, que costuma ser mais baixa que a dengue e durar apenas dois dias, além de dor de cabeça e muita dor no corpo, principalmente nas juntas. “Começa em todas as juntas e depois fica em uma específica, que depende muito do histórico de inflamação anterior. Existem pessoas que relatam essas dores por até um ano”, aponta a infectologista Elna Amaral.

Meio Norte