Hospitais voltaram a registrar aumento de atendimentos e de internações de crianças por Covid-19. O grupo etário entre zero e cinco anos se tornou o de maior risco de hospitalização pela doença, excetuando a população acima de 60 anos, segundo análise inédita do Infogripe-Fiocruz, projeto que faz o monitoramento dos casos de SRAGS (síndromes respiratórias agudas graves) no país.
A faixa etária até cinco anos ainda não pode ser imunizada contra a doença. Em novembro, esse grupo não representava 5% dos casos semanais de SRAG por Covid-19 no país. De abril em diante, ele passou a responder por até 15% dos registros.
Uma outra análise, do Info Tracker (projeto da USP e da Unesp), apontou que as internações de crianças por Covid em quatro hospitais infantis públicos da Grande São Paulo (Cândido Fontoura, Menino Jesus, Darcy Vargas e Hospital Municipal da Criança e do Adolescente), tiveram alta de 23% entre 1º de junho e 13 de junho (de 60 para 69).
Segundo Wallace Casaca, coordenador do Info Tracker e professor da Unesp, no Brasil, desde abril se observa um crescimento dos casos de internações infantis por SRAG causada pela Covid, especialmente na faixa etária abaixo de cinco anos. Entre abril e maio, houve alta de 33% (de 461 para 612 internações). Os dados do país referentes a maio e início de junho ainda estão incompletos.
O Hospital Pequeno Príncipe, a maior instituição pediátrica que atende o SUS no Brasil, observa aumento de casos confirmados e de internações por Covid. Até segunda (13), foram, em média, 5,38 casos confirmados por dia, contra 4,2 casos em maio, uma alta de 26%.
Considerando crianças até cinco anos, o aumento é ainda maior. São 3,3 casos por dia contra 2,2 de maio, uma alta de 50%. A taxa de confirmação dos testes de Covid passou de 12%, em maio, para 20% neste início de junho. As internações mais do que triplicaram entre abril e maio, passando de 9 para 30. Nesta segunda (13), haviam 18 crianças internadas.
Para Marcelo Gomes, coordenador do Boletim Infogripe, esse aumento dos casos de Covid em crianças pequenas é, em grande parte, resultado do abandono das medidas de proteção, como o uso de máscaras em locais fechados, pelos adultos.
“Em relação a elas, o cuidado é todo o nosso. À medida que eu facilito a transmissão do vírus, torno mais fácil o caminho até as crianças, que não têm condições de se proteger por conta própria. Elas precisam das nossas ações, que a gente tenha cuidado.”
Wallace Casaca, do Info Tracker, chama atenção para a alta de internações por Covid também entre os bebês de zero a 11 meses. Entre abril e maio, elas pularam de 199 para 285.
Nas últimas quatro semanas, o Sabará Hospital Infantil viu o número de casos confirmados de Covid passar de 21 para 129 no pronto-socorro. No mesmo período, as internações passaram de três para nove. Nesta segunda (13), havia 13 crianças internadas.
“O percentual de positividade [para Covid] vem se elevando desde final de abril. Era 1%, foi subindo no mês de maio e, na semana passada, 21% de todos os testes de Covid vieram positivos”, diz Francisco Ivanildo Ribeiro, gerente de qualidade do Sabará.
Segundo ele, a maioria das crianças não requer internação. Em geral, só vão para a UTI aquelas com fatores de risco, como doenças crônicas, alterações genéticas e neurológicas.
Para Ribeiro, apesar do impacto da Covid ser bem menor nas crianças pequenas do que em relação às outras faixas etárias, é muito importante incluí-las na vacinação. “Elas podem funcionar como reservatórios do vírus e transmitir. É um grupo que, do ponto de vista numérico, não é desprezível. A gente tem 9% da população com menos de cinco anos de idade.”
Além disso, o médico chama a atenção para a baixa cobertura que a imunização contra a Covid está tendo na faixa etária seguinte, entre 5 e 11 anos, para qual a vacina já está liberada desde o início do ano. Hoje, pouco mais de 30% das crianças nesse grupo etário estão com as duas doses da vacina.
Uma revisão sistemática mostrou que mais de 25% das crianças e adolescentes infectados pelo coronavírus podem desenvolver a Covid-19 longa, ou seja, continuam apresentando um ou mais sintomas mesmo após mais de um mês da infecção. O estudo foi conduzido por universidades dos Estados Unidos, México e Suécia.
Ao menos oito países já vacinam crianças abaixo de cinco anos contra a Covid usando as vacinas Soberana 02, do laboratório Sinopharm, e a Coronavac, que no Brasil está sob análise da Anvisa para aplicação em crianças a partir de três anos.
Nos Estados Unidos, o FDA estuda a liberação tanto da vacina da Pfizer (três doses) quanto da Moderna (duas doses).
Fonte: Folhapress