O número de brasileiros sem dinheiro para alimentar a si ou a família cresceu no último ano, segundo pesquisa feita pela FGV Social. A insegurança alimentar passou a atingir 36% da população em 2021, resultado recorde desde de 2006, quando a série histórica começou.

Esse índice cresceu ao longo dos anos. Em 2014, 17% da população se encontrava em situação de insegurança alimentar. Em 2019, ano anterior à pandemia de Covid-19, a fome já atingia 30% da população.

Também é a primeira vez em mais de 15 anos que a fome ultrapassa a média mundial. Antes e durante o período de pandemia, a insegurança alimentar no Brasil ficou 4,48 pontos percentuais acima da média de todos os 120 países pesquisados.

No ranking dos países com maior percentual da população sem dinheiro para comprar comida, o Brasil ocupa a 63ª posição.

Segundo Marcelo Neri, economista e diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV, os dados mostram uma ineficácia das políticas públicas nos últimos anos. “É uma conclusão empírica, a parcela de brasileiros que não teve dinheiro para alimentar a família bateu recorde. A desigualdade aumentou, sugerindo a ineficácia relativa de ações nacionais”, afirma.

Os mais pobres são os mais prejudicados

A fome aumentou 22 pontos percentuais entre os 20% mais pobres do Brasil durante a crise de Covid-19, passando de 53%, em 2019, para 75%, em 2021. O país se aproximou do Zimbábue, que tem o maior nível de insegurança alimentar (80%).

Por outro lado, a insegurança alimentar no grupo dos 20% mais ricos teve queda de três pontos percentuais, caindo de 10% para 7%. Índice parecido com o da Suécia, país com o menor nível de fome (5%).

Na comparação com a média global de 122 países em 2021, os brasileiros mais pobres têm 27 pontos percentuais a mais de insegurança alimentar. Já os mais ricos apresentam 14 pontos percentuais a menos.

As expectativas de Marcelo Neri para o cenário atual são preocupantes. “A estagflação, que combina altas taxas de inflação e de desemprego, tem sido pior para os pobres e deve piorar. É uma situação parecida com a da recessão de 2015 e 2016. Os números são similares, só que hoje partimos de um cobertor já curto, sendo que o cobertor dos pobres, que já era menor, encolheu mais ainda”, afirma.
R7