O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, afirmou que a análise para uso emergencial da vacina Sputnik V, contra a covid-19, está parada no órgão regulador. O pedido para a vacina, de desenvolvimento russo, foi protocolado no Brasil a pedido da empresa União Química.
“É muito importante que se entenda que esse processo que fizemos de interrupção ou de negativa da autorização excepcional de importação não deve somar a essa marca Sputnik V nenhum pensamento negativo”, reforçou Barra Torres durante depoimento nesta manhã à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado. “Isso faz parte do processo”, completou.
“Essas respostas tem que vir do desenvolvedor. Não vejo utilidade de que algum agente busque influenciar”, afirmou Barra Torres sobre o imunizante. “Para a aprovação (da vacina Sputnik) a pressão que há está na mídia. É essa que nós recebemos todos os dias. Não é da mídia, mas por meio da mídia. Acho que todos nós temos assistido os telejornais em que os agentes públicos desejosos de atender bem a sua população têm cobrado e têm feito acionamentos judiciais”, afirmou. “A pressão que há é essa: ostensiva, pública e eu não vejo nada demais nisso”, completou.
No mês passado a Anvisa barrou a importação do imunizante após apontar o potencial de presença de adenovírus replicante na vacina. Conforme ressaltou o diretor-presidente da agência, não houve qualquer pressão ou influência do Ministério da Saúde ou de outros países, como os Estados Unidos, na análise do imunizante. Conforme ressaltou, Barra Torres disse ter se reunido com representantes do Cazaquistão, Rússia, Paraguai, Índia e Canadá.
“Espero que [embate diplomático] não tenha impacto nenhum [para a aprovação]. É uma questão regulatória. Não está em questão a amizade entre os países. Brasil e Rússia tem uma tradição de negócios já bastante antiga em vários setores”, afirmou Barra Torres. “É uma questão regulatória que tem começo, meio e fim. Esperamos que chegue a bom fim.”
Conforme ressaltou, mesmo os imunizantes que já receberam aprovação regulatória apresentam problemas. Barra Torres descartou que a facilitação regulatória, aprovada desde 2020, tenha impacto na análise técnica dos documentos. Segundo defendeu, é necessário o acompanhamento dos imunizantes aprovados.
Segundo disse, a agência não faz a análise laboratorial do imunizante, mas sim a análise dos documentos apresentados pelos desenvolvedores. Durante o depoimento, o chefe da agência afirmou também ter recebido documento do Fundo Soberano Russo em que “de maneira surpreendente”, a entidade faz críticas pessoais aos servidores da Anvisa.
Para Barra Torres, importação de insumos está “diretamente ligada ao CPF de quem autorizou”. “Não há possibilidade de quem um diretor, um diretor-presidente, ou um diretor, exerça poder de mando sobre essas pessoas no sentido de que eles, ao custo dos seus próprios CPFs, firmem juízos que não sejam os próprios”, disse.
Estadão Conteúdo