Exclusivo: o Fantástico traz detalhes inéditos da investigação do Facebook que levou, no começo de julho, à derrubada de páginas em redes sociais ligadas ao presidente Jair Bolsonaro e a políticos do PSL.
Por trás desses perfis, estavam assessores, pagos com dinheiro público. Eles estão sendo acusados de manipular o debate público na internet, usando fake news, desinformação e ataques a adversários do presidente.
O anúncio do Facebook da remoção de um conjunto de contas e páginas brasileiras devido ao chamado comportamento inautêntico coordenado foi no dia 8 de julho. Segundo a plataforma, era um esquema com dezenas de perfis, que escondiam a verdadeira identidade dos criadores. Essas contas acumulavam cerca de 2 milhões de seguidores no Facebook e no Instagram – rede social que também pertence à empresa.
O Fantástico teve acesso exclusivo às principais páginas derrubadas pelo Facebook, e nossa equipe analisou as postagens em detalhes, mostrando o mecanismo dessa rede e revelações sobre o perfil dos integrantes.
Um deles é assessor especial do presidente Jair Bolsonaro, que trabalha dentro do Palácio do Planalto: Tércio Tomaz recebe um salário de mais de R$ 13 mil. Além de uma conta pessoal, Tércio mantinha outras duas, anônimas, chamadas Bolsonaro News.
Outro assessor que mantinha pelo menos oito páginas inautênticas era Leonardo Rodrigues de Barros. Ele trabalhava pra deputada estadual Alana Passos, do PSL do Rio, e recebia um salário de mais de R$ 6 mil. O presidente chegou a gravar um vídeo para uma dessas páginas.
Postagens feitas por Leonardo eram compartilhadas pela noiva, Vanessa Navarro, assessora do deputado estadual Anderson Moraes, do PSL. Pelo menos sete páginas ligadas a Vanessa foram derrubadas – os nomes eram parecidos, com pequenas variações, apesar de pertencerem à mesma pessoa, uma prova, segundo o Facebook, do comportamento enganoso.
A investigação também aponta que funcionários ligados ao senador Flávio Bolsonaro, do Republicanos, participaram do esquema, mas não traz detalhes.
O histórico de postagens a que tivemos acesso exclusivo são peças fundamentais pra entender como as redes sociais foram operadas na eleição de 2018.
Detalhes dessa investigação sobre a rede brasileira vão ser encaminhados à Polícia Federal. A decisão foi tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, nos inquéritos que apuram a disseminação de fake news e o financiamento de atos antidemocráticos.
Nós procuramos o presidente Jair Bolsonaro e os filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, do PSL, e o senador Flávio Bolsonaro, mas eles não responderam.
O assessor do Planato Tércio Tomaz também não quis falar.
A defesa de Paulo Eduardo Lopes afirmou que ele “jamais administrou qualquer página de conteúdo jornalístico” e que “o Facebook se equivocou ao banir as páginas de Paulo Chuchu de suas plataformas”.
O advogado de Leonardo Rodrigues de Barros Neto disse que “não há qualquer fundamento” nas investigações que apontam seu cliente como dono de “perfis inautênticos”, “já que sua identidade é conhecida”. Mas a defesa não esclareceu por quê Leonardo mantinha um site, que omitia sua autoria e se apresentava como jornalístico.
A deputada Alana Passos, do PSL do Rio, disse que “não responde por aquilo que servidores publicam em suas redes sociais pessoais” e que Leonardo pediu exoneração em abril.
A defesa da assessora Vanessa Navarro classificou a exclusão da conta como “atentado à liberdade de expressão”. O deputado estadual Anderson Moraes, também do PSL do Rio, afirmou que a derrubada das páginas de Vanessa configura censura prévia./
A reportagem é de Murilo Salviano, Diego Zanchetta, Alan Graça Ferreira e Nancy Dutra.
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