A pandemia do novo coronavírus mudou a forma como as pessoas vivem no mundo todo, como estamos em ano eleitoral no Brasil, mudanças também são necessárias para que o pleito ocorra com a segurança necessária para eleitores e candidatos. A primeira grande mudança foi a data, programada inicialmente para acontecer no início de outubro, mas uma Proposta de Emenda à Constituição aprovada pelo Congresso adiou o primeiro turno para 15 de novembro e o segundo, para 29 de novembro. Para trazer mais esclarecimentos sobre como será o pleito este ano, o 180 convidou o cientista político Matias Régis para comentar as principais mudanças, confira a seguir as suas considerações:
Incertezas
Existem inúmeras incertezas neste pleito de 2020, não há literatura sobre uma eleição moderna em meio a uma pandemia, estamos vivendo algo novo, faremos história mais uma vez. Podemos apenas realizar especulações, porém, as últimas eleições nos deram uma dimensão mais clara do poder que os meios digitais terão no pleito de 2020. Ademais, as medidas de distanciamento social mudarão radicalmente a maneira de se fazer política nas eleições municipais deste ano. Nos resta saber como esta realidade atingirá todas as regiões do país, até as mais longínquas no interior do Brasil.
Sem dúvidas as redes sociais digitais serão os principais meios de veiculação das campanhas eleitorais
Matias Régis, cientista político.
Protagonismo das redes sociais
O avanço e capilaridade destes canais de comunicação no final da primeira década do século XXI tem revelado o quão penetrante e influente são estes meios. Ainda é recente a literatura que estuda o real impacto dos meios digitais na comprovação do convertimento em votos, mas é notório o impacto que estes meios tiveram nas últimas eleições presidenciais aqui no Brasil, além das últimas realizadas em todo o mundo.
Os candidatos desatentos ou que menosprezarão este meio de comunicação, estarão fadados a sofrerem as consequências da falta de visibilidade, interação e economias de tempo e dinheiro que as redes sociais digitais proporcionam. Ainda é muito cedo para sabermos os impactos destes meios, principalmente nas cidades no interior dos estados, com destaque para o Nordeste, onde o nível de acesso a internet ainda é muito pequeno.
Sobre a realidade da impossibilidade da realização de grandes aglomerações, as redes sociais digitais serão os meios mais eficientes e eficazes para a divulgação das principais propostas e realizações durante a campanha eleitoral.
Conteúdo é a chave
Porém, não basta apenas postar e postar e postar, sem um conteúdo relevante, métricas bem analisadas sobre o comportamento de cada grupo de eleitor, as imagens, textos e vídeos produzidos poderão estar fadados a ser um material ignorado com facilidade, ou até não mostrado pelas próprias redes sociais digitais. O conteúdo presente em cada material divulgado é o que fará a diferença. Não é sobre o quanto se posta, mas sobre o que se posta, como se posta e para quem aquele conteúdo será postado. As redes sociais digitais nos permitem tornar o conteúdo mais exclusivo possível mesmo em um âmbito municipal.
Destaque também para a necessidade da criação de campanhas patrocinadas nas redes sociais digitais, ou seja, pagar para ser visto, investir para aumentar o alcance do eleitorado. Não é porque o acesso as redes socais digitais é gratuito, que se deve deixar de investir dinheiro nestes meios, pelo contrário, o alcance orgânico destes canais é reduzido, justamente para que seja efetuada uma promoção de cada postagem. Por isso candidato, invista certo!
Cabo eleitoral no Whatsapp
Outra grande mudança prevista para estas eleições em meio a pandemia é a grande atuação dos cabos eleitorais através do WhatsApp. Não mais de casa em casa, ou através de reuniões nos bairros e localidades, agora, este personagem importante na eleição de um candidato, será responsável por compartilhar o melhor do conteúdo em grupos comunitários estratégicos e em sua rede de contatos.
Com a necessidade do distanciamento social, o contato físico não será substituído, porém, novas formas de comunicação com o eleitor deverão ser adotadas, por serem mais seguras, baratas e influentes.
Valorização da TV e rádio
Outra grande expectativa para as eleições deste ano é a volta da importância dada aos tradicionais meios de comunicação: Rádio e Televisão. Nas últimas eleições viu-se uma certa desvalorização da propaganda eleitoral gratuita, onde o candidato a presidente com menor tempo de televisão e rádio, acabou ganhando as eleições. Porém, este ano espera-se que por conta de grande parte da população ter o acesso à internet limitado, aconteça um efeito reverso em relação as eleições passadas, com mais pessoas interessadas em conhecer os candidatos por estes meios tradicionais, levando assim um peso maior deste meio na conversão de votos.
Abstenção nas votações
Outro ponto a ser destacado, é que se espera uma maior abstenção de votos. Uma parte da população irá preferir evitar as grandes filas geradas na espera para o exercício da cidadania, por medo da contaminação. Sobretudo os idosos, que já não tinham a obrigatoriedade do voto, provavelmente serão a grande maioria dos votos não realizados. Um dos maiores desafios dos candidatos este ano, será convencer o seu eleitorado a votar, vencendo o medo e o desânimo.
Nada será como antes
Serão inúmeras as mudanças neste pleito de 2020, mas muitas delas são novas, em meio as especulações, uma certeza podemos garantir, nada será como antes após as eleições de 2020, e as redes sociais digitais mostrarão mais uma vez que não são coisas do futuro, mas do presente, e um presente bem urgente!
Fonte: 180 graus