O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, fala à imprensa, no Palácio do Planalto.

O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM), indicou o seu professor particular de inglês para trabalhar na assessoria internacional da pasta por um salário de R$ 10 mil.

Allan Bubna, de 24 anos, confirmou à Folha de S.Paulo o convite feito pelo ministro. No dia 22 de abril, ele esteve no ministério para dar entrada no processo de nomeação.

No fim da tarde desta sexta-feira, duas horas após a publicação da reportagem, Onyx cancelou a nomeação do assessor na gestão de Jair Bolsonaro (sem partido).

O professor de inglês disse que conheceu Onyx na metade do ano passado, quando o ministro, então na Casa Civil, passou a ser seu aluno.
“Tivemos, até o período de quarentena, aulas de inglês duas vezes por semana”, afirmou.

As aulas eram dadas num curso de inglês na Asa Sul de Brasília e foram interrompidas no dia 19 de março, após o governo do Distrito Federal decretar o fechamento das atividades de ensino e comerciais por causa do novo coronavírus.
Segundo pessoas ligadas à pasta, a vaga escolhida por Onyx para empregar seu professor é a da categoria DAS-4, no valor de R$ 10.373,30, a terceira maior remuneração entre os comissionados, de acordo com a tabela do governo federal.

“O ministro me indicou [para a vaga no governo] pois, durante nossas aulas, também trabalhávamos com assuntos relacionados ao trabalho dele e de importância nacional e global”, disse Bubna, bacharel em Relações Internacionais pela UnB (Universidade de Brasília).”

“Admito que minha carreira ainda está no começo”, afirmou. Ele disse ainda que já fez uma entrevista e foi aprovado para integrar a equipe da pasta dirigida por Onyx.

O professor relatou ter tido experiências em relações internacionais em uma ONG educacional em Uganda, na África. Ele afirma ainda que passou pelo Ministério de Relações Exteriores e pela Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).

Segundo pessoas ligadas ao Ministério da Cidadania, a indicação do professor de inglês do ministro pegou todos de surpresa.

Técnicos ouvidos reservadamente pela reportagem disseram que Bubna não apresentava currículo suficiente para assumir a função.

Procurada, a assessoria do ministério disse apenas que “Allan foi indicado para compor a equipe de assessoramento internacional, sob chefia do diplomata Maurício Bernardes, mas não há no presente momento nenhum processo de admissão aberto”.

Já a Casa Civil afirmou nesta sexta (1º) que a indicação está “em análise”.
Após a Folha de S.Paulo revelar a indicação, o ministro Onyx Lorenzoni afirmou por meio de suas redes sociais que nomeou Bubna por sua graduação em Relações Internacionais.

“Fui aluno do professor Allan Bubbna (sic), mas a indicação para compor a equipe liderada por um diplomata de carreira não foi do professor, e sim do profissional graduado em relações internacionais na UNB”, disse.

Bubna também tem filiação partidária. De acordo com informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o professor de Onyx é filiado ao PSOL há cinco anos. Ao ser questionado se sua posição política não entraria em conflito com o do governo Jair Bolsonaro, o professor minimizou.

“Com relação a minha filiação partidária, ela foi realizada cinco anos atrás e não representa minha visão de mundo. Além disso, nunca tinha participado de atividades partidárias. Por motivos variados, eu ainda não tinha concretizado minha desfiliação, mas já entrei em contato com o diretório do partido no DF e estou encaminhando minha desfiliação imediatamente”. disse.

Também pelas redes sociais, Onyx disse que desconhecia a filiação partidária do professor e, por isso, estava cancelando a sua indicação.

“Desconhecia qualquer ligação ou filiação partidária do indicado e informo que até que tudo fique esclarecido, para não se cometer nenhuma injustiça, o processo está cancelado”, afirmou pelo Twitter.

Bubna foi indicado para assessorar o diplomata Maurício Carvalho Bernardes que atualmente está lotado na embaixada brasileira em Buenos Aires. A sua transferência e nomeação foi pedida pela Cidadania e está em trâmite.

“Tive uma entrevista com o futuro chefe da Assessoria Internacional, Maurício Bernardes, que aprovou minha inclusão em sua equipe”, afirmou o professor.
Procurado por meio do email funcional do Itamaraty, Maurício Bernardes não se manifestou.

De quarta-feira (29) a esta sexta (1º), a reportagem perguntou ao Ministério da Cidadania e à assessoria pessoal do ministro Onyx Lorenzoni se a indicação não representava um conflito de interesse, mas não obteve resposta.