O total de mortes pela covid-19 no Brasil pode chegar a 9,7 mil até o próximo domingo, projeta o Imperial College de Londres Novo estudo da instituição revela que o País tem a pior situação no mundo, com o número de casos “em provável crescimento” e um registro “muito grande” de óbitos. Crítico do isolamento social, o presidente Jair Bolsonaro tem defendido afrouxar as quarentenas para reabrir a economia e ampliou ontem a lista de atividades consideradas essenciais, incluindo até startups e serviços de locação de veículos.

O levantamento do Imperial College com 48 nações, divulgado ontem, revela que o número de óbitos deverá ser “muito alto” (acima de 5 mil) em só dois países, Brasil e Estados Unidos. Numa previsão menos pessimista, os cientistas previam 5,6 mil óbitos até o fim desta semana no Brasil – ontem, o Ministério da Saúde contabilizava 5.466. Os números previstos para os EUA são maiores, de 13 mil a 15 mil, mas por lá a epidemia já está se estabilizando.

O Imperial College é uma das mais conceituadas instituições em modelagem matemática e vem publicando projeções desde que a epidemia chegou à Europa. Foi por causa dos seus números que o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se convenceu de que o isolamento social era necessário para evitar uma catástrofe.

O levantamento lista os países em que a disseminação do coronavírus está “provavelmente declinando”, como França, Itália e Espanha e outros em que há estabilidade ou crescimento lento, como Alemanha, Reino Unido e os EUA. A pior previsão é para nove países em que a epidemia ainda se encontra “em provável crescimento”, o que inclui Brasil, Canadá, Índia, México e Rússia. O Brasil tem ainda o maior número de reprodução de casos – cada doente transmite para aproximadamente três outros, forte indício de que a velocidade do crescimento da infecção é alto.

Pressionado ontem em audiência no Senado, o ministro da Saúde, Nelson Teich, citou estudo da pasta para mudar a diretriz de isolamento só para alguns grupos – como idosos, casos confirmados e aqueles em contato com doentes – e regiões mais críticas. Mas ponderou que o posicionamento do ministério não mudou até agora. “O fato de estar planejando agora não quer dizer que vai liberar ou sugerir flexibilização no momento em que a curva ainda está ascendente”, afirmou.

Criticado por ter falado em relaxar o isolamento, Teich ponderou que a mudança dependerá de uma queda na curva de casos e a decisão será de Estados e municípios.

“Viramos referência mundial negativa”, resume o infectologista Antônio Flores. “Tem a ver com nossas estratégias de testagem, não satisfatórias; da forma como o distanciamento social foi implementado em diferentes regiões e das mensagens conflitantes do governo. Ter uma mensagem consolidada é importante para que a comunidade tenha confiança na resposta; e aqui vemos protestos contra o isolamento”, diz.

“O Brasil adotou medidas de distanciamento social precocemente, diferentemente dos EUA, e achatamos a curva (de crescimento da epidemia), adiamos o pico, mas isso tem de ser acompanhado pela oferta de leitos”, afirma o infectologista Roberto Medronho, da UFRJ.

Serviços essenciais. O decreto de Bolsonaro inclui no rol de serviços essenciais atividades de alimentação, bancos, mecânica automotiva, transporte e armazenamento de cargas (mais informações acima.). A maior parte já estava liberada em alguns Estados, por determinação de governadores e prefeitos, já que nenhum local tem lockdown (fechamento) completo. O objetivo é impedir que essas atividades sejam atingidas por ordens locais.

Startups, serviços de locação de veículos e de equipamentos de refrigeração estão entre os que têm aval da União, mas não são contemplados no decreto de São Paulo, por exemplo. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu este mês que Estados e municípios podem definir sozinhos as ações de quarentena. Para especialistas, setores contemplados pelo decreto e não autorizados nos Estados podem entrar na Justiça, mas o entendimento do STF sobre valer a regra local deve prevalecer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo